sábado, abril 30, 2005
sexta-feira, abril 29, 2005
Acabou!
Por sugestão do barnabé, debrucei-me sobre este excerto. Prometo que é o último post sobre o Bento. Não haverá mais posts sobre o Bento (pelo menos este Bento)! Acabou! Voltaremos em breve ao pardacento quaotidiano do Palácio dos Balcões.
«Quando alguém como Ratzinger chama a atenção para o "relativismo moral" da sociedade moderna mas, ao mesmo tempo, afirma que "não há salvação fora da Igreja Católica" [...] ou condena o aborto em nome da defesa da vida mas se mostra compreensivo para com a pena de morte, compreendemos que os "valores morais universais e absolutos" que defende são apenas a supremacia das posições do Vaticano sobre todas as outras, com as variantes regionais e temporais que este entenda defender.O Vaticano não possui qualquer autoridade para falar de "relativismo moral" pois essa é a sua moeda corrente. Um dos domínios onde isso é gritante – e só não vê quem não quer – é a questão dos direitos das mulheres no seio da Igreja. A Igreja não pode considerar que o mais alto papel a que uma mulher pode aspirar é lavar os pés do Papa e falar de duplicidade de critérios. Como não pode abençoar torcionários e autores de massacres e falar do direito à vida, ou amordaçar as opiniões divergentes no seu seio e falar dos direitos humanos. Ou condenar milhões de africanos a morrer de SIDA ameaçando-os com o inferno se usarem o preservativo e falar da piedade, do perdão e do amor de Cristo.»
José Vítor Malheiros, Público 26 de Abril
quinta-feira, abril 28, 2005
...e para prazer de todos, um ataque mais brejeiro...
Na última página do público de segunda-feira (dia 25 de Abril) faz-se um retrato da namorada do papa. Intelectual, professora de viola da gamba em Basileia, vive com o papa há cerca de 14 anos. Partilha as suas dores e as suas alegrias, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte os separe...
quarta-feira, abril 27, 2005
Nas minhas serras
A fotografia em baixo não é de uma ermida no alentejo, sequer de uma capela moçárabe das ordens religiosas algarvias do tempo de D. Dinis. É no norte.
Na saída que vai de Arouca para Janarde e chama-se Senhora da Mó. É mourisca e, sem arriscar muito, parece-me ter directamente a ver com a alcaidaria independente moura que houve em Lafões. Mesmo ali, junto do rio Paiva, ainda susbsistem memórias de um passado mais ou menos recente. Não só nos contos de mouras encantadas, nos poços do mouro, no mouro mancebo, nas pedras da moura, mas também na arquitectura que, como se vê, é tão encantada como as mouras. Se foram mouros que construiram a ermida para mesquita, se terão sido cristão arabizados culturalmente... não sei. Seria preciso escavar.
Mas o encanto da senhora da Mó não se fica por aqui. Lá dentro encontra-se um quadro (ex-voto) do século XIX, relatando um milagre ocorrido em 1027, versando um cristão cativo de mouros que miraculosamente conseguiu fugir atravessando o Paiva. Encontra-se ainda uma imagem da Senhora da Mó; uma imagem curiosa que, se não for obra artística rural de qualquer povoado muitíssimo isolado, será concerteza pré-românica ou do primeiro românico.
segunda-feira, abril 25, 2005
Ainda o Papa
Já que continua assunto da moda, cá vai.
Camilo, ao escrever o Perfil do Marquês de Pombal, tinha na memória o Concílio do Vaticano I ainda bem fresco e bem representado por um dos seus dogmas mais patéticos: a infalibilidade do papa. Este escritor que dá um invulgar valor à espiritualidade e que era assumidamente católico, conseguia, ainda assim, vislumbrar claramente os limites do ridículo. No dito livro diz então Camilo:
"Verney foi vitimado, como agente de negócios em Roma, [...]. Clemente XIII expulsara-o, como infante, de Roma, e Clemente XIV, a pedido do ministro português, reabilitou-o, e nobilitou-o com a ordem equestre de Esporão de ouro. Que papas! Chega a gente a recear que os dois não fossem perfeitamente infaliveis!"
Camilo Castelo Branco.
quarta-feira, abril 20, 2005
Ah! Ah! Ah!
http://dn.sapo.pt/2005/04/19/opiniao/principes_elegem_rei.html
Pois é Luis Delgado. Só resta saber se os cardeais foram eleitos democraticamente pelos bispos, se os bispos foram eleitos democraticamente pelo padres, se os padres foram eleitos democraticamente pelos católicos em geral e se os católicos em geral aceitam que um membro convicto de uma organização terrorista (Opus Dei) seja o chefe "democraticamente eleito" deles.
segunda-feira, abril 18, 2005
Bombas em Carros
Chegou-me este link por email: http://www.publico.clix.pt/sites/bussola/files/questionario.htm
Trata-se de um questionário que pretende situar-nos politicamente e que tem algum graça. O meu resultado foi quase tudo para baixo (libertarianismo) e quase tudo para a esquerda. Ou seja, prendam-me antes que eu comece a pôr bombas em carros.
Trata-se de um questionário que pretende situar-nos politicamente e que tem algum graça. O meu resultado foi quase tudo para baixo (libertarianismo) e quase tudo para a esquerda. Ou seja, prendam-me antes que eu comece a pôr bombas em carros.
domingo, abril 17, 2005
Estou confuso...
Na RTP1 (canal do estado) Luís Represas tem direito a um piano de cauda para o acompanhar. Ao mesmo tempo, dezenas de Auditórios Municipais não podem receber bons pianistas por não terem instrumentos decentes. Dezenas de bons alunos não se podem apresentar dignamente nos seus conservatórios por falta de condições... Terá sido o dinheiro que se gastou no piano de cauda para acompanhar o Luís Represas e no material para Operação Triunfo...
Na RTP2 (suposto canal de cultura do estado), simultaneamente, é transmitido um concerto dos Blasted Mechanism como sendo um produto erudito...
E o Lou Reed inaugura a casa da música.
E o Jorge Sampaio leva o Rodrigo Leão a Paris como representante da cultura portuguesa.
?...
terça-feira, abril 12, 2005
César Viana
Sou amigo e admirador do César Viana. Agora, para que todos possam apreciar as suas reflexões sobre música e outras coisas mais, ele tem um blog. Do Ladoeiro para o mundo e para o topo da minha lista de preferências: Bajja.
sexta-feira, abril 08, 2005
Notas de Rodapé
As edições de textos clássicos trazem sempre uma controvérsia: as notas de rodapé. Colocar notas de rodapé para ir explicando as incidências e simbologias do texto ou não colocar qualquer comentário para a leitura correr mais prazenteira?
Este problema põe-se, principalmente, porque os tradutores/editoras não decidem claramente se o objectivo do livro é ser um trabalho académico ou um trabalho de apreciação artística.
Voltando a Frederico Lourenço, este tradutor optou claramente por não colocar qualquer nota de rodapé na sua Odisseia para permitir um fluir do texto mais natural. Pelas suas palavras "...resisti à tentação de salpicar o texto com notas, convicto de que o intuito principal que presidiu à composição da Odisseia foi de enlevar e comover os ouvintes por meio de uma história empolgante, maravilhosamente contada."
Ora eu fiquei muito contente com esta opção e penso que, no contexto editorial escolhido, é um ponto a favor. É evidente que se o tradutor optasse por uma edição académica, com fins de estudo ou de tese, o caminho não seria este. É também evidente que gostei muito da leitura em causa porque já antes tinha lido uma versão cheia de notas de rodapé que, confesso, me deram imenso jeito para entrar dentro das simbologias Homéricas. Provavelmente, se tivesse mergulhado directamente naquela experimentaria mais dificuldades.
Ou seja. Fica feio mas dá muito jeito. Tudo seria perfeito se houvesse pelo menos duas versões de cada obra, cada uma com sua opção clara: usufruto artístico ou tese académica.
Causado por esta confusão de objectivos editoriais que grassa nas nossas traduções, surge um outro problema: o exagero. A título de exemplo, tenho comigo um livro que reside nesse terreno dúbio, em que não é estudo académico completo mas em que, simultaneamente, não consegue funcionar com fluidez de leitura; é a Oresteia de Ésquilo, numa tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, ilustríssimo Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mais uma vez confesso que uma ou outra nota que me explique qual o significado de certas referências familiares de Agamémnon ou de Orestes me ajudam muito e me poupam algumas idas a dicionários de mitologia Grega. Mas, como não frequento a Faculdade de Letras em Coimbra e comprei o livro para saborear a trilogia trágica, não consigo compreender porque é que o Dr. Manuel Pulquério me corta o prazer da leitura com notas constantes como "Entendo, como Page, que se deve manter a tradição no v.798" ou "não há razão para suspeitar do v.925, que reforça, muito naturalmente, o v.922"! O caso torna-se mais grave quando, em vez de nos dar dispensáveis explicações sobre as várias soluções de tradução que os autores adoptam por esse mundo fora, as ditas notas me ajudam a intepretar os excertos que li. Perante "Saliente-se a ambiguidade ameaçadora das palavras de Clitemnestra" ou "Repare-se no duplo sentido sinistro" não consigo deixar de pensar que provavelmente os alunos do referido curso de letras não conseguem detectar as ambivalências do texto e as subtilezas da escrita de Ésquilo por si próprios. Necessitam que a nota lhes avise que Clitemnestra é ambígua ao vaticinar que Agamémnon vai entrar na casa em que não esperava entrar...
Para acabar, gostava de referir que este pretende ser apenas um contributo para a discussão. Muito devemos ao Prof. Manuel Pulquério por nos dar a oportunidade de apreciar em Português a única trilogia dos grandes tragediógrafos Gregos que chegou até nós.
terça-feira, abril 05, 2005
segunda-feira, abril 04, 2005
Protesto
Tem sido noticiado amplamente o concerto da Mariza em Cork - Capital Europeia da Cultura como sendo a única representação portuguesa no certame.
Estamos todos habituados a esta cegueira em volta da música popular. Basta-lhe apresentar um invólucro mais suave para ter já uma imagem intelectual. Para ser já dignamente chamada arte. Parece cada vez mais que, hoje em dia, a música erudita portuguesa são os Madredeus, a Mísia, a Mariza e o Rodrigo Leão. Até o Presidente da República julga que esses são os verdadeiros representantes da cultura portuguesa, levando-os aos Jogos Olímpicos de Atenas, à Expo.2006, etc. A confusão entre cultura relevante e entretenimento produzido com fins lucrativos é gritante. Mas isso já todos vamos sabendo.
A questão é: a Mariza não foi a única representação portuguesa em Cork2005. Ou é mentira deliberada ou é incompetência. O Quarteto de Cordas São Roque, onde toco, realizou um recital preenchido com obras de Mozart e Vianna da Motta no Lecture Theatre da Crawford Gallery em Cork, no dia 22 de Março de 2005.
Apesar de os media acharem pouco relevante, a música de Vianna da Motta que foi lá apresentada é muito raramente tocada em Portugal e tem uma qualidade de escrita notável. O público Irlandês ficou verdadeiramente admirado com a genialidade do compositor português. Não vou obviamente falar da prestação do quarteto, já que faço parte integrante do mesmo.
Gostava ainda de referir que a Fundação do Oriente não achou o projecto - tocar música portuguesa em Cork - suficientemente relevante para ser passível de atribuição de ajuda financeira, pelo que foi a própria organização do Cork2005 - Capital Europeia da Cultura que suportou a quase totalidade dos custos (com a ajuda da Embaixada Portuguesa em Dublin).
domingo, abril 03, 2005
Correcção
Ao reler os posts antigos, dei-me conta de uma gralha grosseira. Talvez pela velocidade da escrita, talvez pela hora adiantada, a verdade é que disse que a nossa primeira dinastia era de Bolonha e não de Borgonha como seria correcto. Um disparate.
Se alguém deu conta podia ter-me avisado... Assim evitava a vergonha de reparar no meu erro tão tarde e no embaraço de imaginar centenas de pessoas chamando-me ignorante.
sábado, abril 02, 2005
Agradecimentos
Agradecido ao Homero pela Odisseia.
Agradecido ao Frederico Lourenço por se ter lembrado do Homero.
Agradecido à Cotovia por se ter lembrado do Frederico Lourenço.
"E um cão, que ali jazia, arrebitou as orelhas.
Era Argos, o cão do infeliz Ulisses; o cão que ele próprio
criara, mas nunca dele tirou proveito, pois antes disso partiu
para a sagrada Ílion. Em dias passados, os mancebos tinham levado
o cão à caça, para perseguir cabras selvagens, veados e lebres.
Mas agora jazia e ninguém lhe ligava, pois o dono estava ausente:
jazia no esterco de mulas e bois, que se amontoava junto às portas,
até que os servos de Ulisses os levassem como estrume para o campo.
Aí jazia o cão Argos, coberto das carraças dos cães.
Mas quando se apercebeu que Ulisses estava perto,
começou a abanar a cauda e baixou ambas as orelhas;
só que já não tinha força para se aproximar do dono.
Então Ulisses olhou para o lado e limpou uma lágrima."
Agradecido ao Frederico Lourenço por se ter lembrado do Homero.
Agradecido à Cotovia por se ter lembrado do Frederico Lourenço.
"E um cão, que ali jazia, arrebitou as orelhas.
Era Argos, o cão do infeliz Ulisses; o cão que ele próprio
criara, mas nunca dele tirou proveito, pois antes disso partiu
para a sagrada Ílion. Em dias passados, os mancebos tinham levado
o cão à caça, para perseguir cabras selvagens, veados e lebres.
Mas agora jazia e ninguém lhe ligava, pois o dono estava ausente:
jazia no esterco de mulas e bois, que se amontoava junto às portas,
até que os servos de Ulisses os levassem como estrume para o campo.
Aí jazia o cão Argos, coberto das carraças dos cães.
Mas quando se apercebeu que Ulisses estava perto,
começou a abanar a cauda e baixou ambas as orelhas;
só que já não tinha força para se aproximar do dono.
Então Ulisses olhou para o lado e limpou uma lágrima."
sexta-feira, abril 01, 2005
De Regresso
O Palácio dos Balcões está de volta. E logo com uma notícia de relevo cultural. Está aí a Ilíada na tradução de Frederico Lourenço. Esperámos três mil anos, mas valeu a pena.
De Volta!
Passado uns tempos, o Palácio dos Balcões voltou. E recomeça a actividade logo com um suculento soneto anti-clerical...
"No meio de uma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima de um jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver esse quadro, apóstolos romanos,
Eu lembrei-me de vós, funêmbulos da cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos
Exibindo, explorando o corpo de Jesus."
Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno.
"No meio de uma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima de um jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver esse quadro, apóstolos romanos,
Eu lembrei-me de vós, funêmbulos da cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos
Exibindo, explorando o corpo de Jesus."
Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno.