«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

segunda-feira, abril 04, 2005

Protesto

Tem sido noticiado amplamente o concerto da Mariza em Cork - Capital Europeia da Cultura como sendo a única representação portuguesa no certame.
Estamos todos habituados a esta cegueira em volta da música popular. Basta-lhe apresentar um invólucro mais suave para ter já uma imagem intelectual. Para ser já dignamente chamada arte. Parece cada vez mais que, hoje em dia, a música erudita portuguesa são os Madredeus, a Mísia, a Mariza e o Rodrigo Leão. Até o Presidente da República julga que esses são os verdadeiros representantes da cultura portuguesa, levando-os aos Jogos Olímpicos de Atenas, à Expo.2006, etc. A confusão entre cultura relevante e entretenimento produzido com fins lucrativos é gritante. Mas isso já todos vamos sabendo.
A questão é: a Mariza não foi a única representação portuguesa em Cork2005. Ou é mentira deliberada ou é incompetência. O Quarteto de Cordas São Roque, onde toco, realizou um recital preenchido com obras de Mozart e Vianna da Motta no Lecture Theatre da Crawford Gallery em Cork, no dia 22 de Março de 2005.
Apesar de os media acharem pouco relevante, a música de Vianna da Motta que foi lá apresentada é muito raramente tocada em Portugal e tem uma qualidade de escrita notável. O público Irlandês ficou verdadeiramente admirado com a genialidade do compositor português. Não vou obviamente falar da prestação do quarteto, já que faço parte integrante do mesmo.
Gostava ainda de referir que a Fundação do Oriente não achou o projecto - tocar música portuguesa em Cork - suficientemente relevante para ser passível de atribuição de ajuda financeira, pelo que foi a própria organização do Cork2005 - Capital Europeia da Cultura que suportou a quase totalidade dos custos (com a ajuda da Embaixada Portuguesa em Dublin).