«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Confusões

Numa resposta a um comentário que me acusava de ter descido o nível do blog da discussão artística para a discussão política, escrevi um pequeno texto que julgo ser relevante para esclarecer a minha perspectiva das ideologias políticas. Modestamente, julgo que é pena deixá-lo apenas na caixa de comentário.
Aqui fica.
Resposta ao primeiro comentário:
2 - não vejo onde a reflexão política possa ser menos interessante, desafiante e até poética, que a reflexão literária. Remeto, aliás, a Platão "As Leis" e a Aristóteles "Política" para afirmar o contrário.
3 - O texto de Einstein não se reportava à URSS, antes ao Socialismo/Comunismo, e o que se passou ou deixou de passar na URSS não põe em causa nenhum dos seus argumentos. Para além disso, convém ter em conta a separação clara de forma de estado e estrutura de governo. Por exemplo, se um auto-denominado liberal decidir matar uns quantos milhões de pessoas é a teoria liberal que tem culpa ou foi apenas uma pessoa que se apoderou dessa denominação para, em nome de uma política, cometer crimes?
Volto a Aristóteles... ele, antes de ninguém, percebeu que tinha que haver uma distinção clara entre forma de estado e regime de governo. Dizia o estagirita no seu Likeu que poderia haver 3 formas de organização de estado:
a) monarquia, b) aristocracia, c) timocracia (palavra que na altura tinha uma conotação pejorativa muito próxima da que a palavra "comunismo" teve nos anos oitenta e noventa nas TV´s ocidentais).
Depois, em cada forma de estado, poderia haver três formas diferentes de exercer o governo:
a)tirania, b)oligarquia, c)democracia.
Ou seja, poderia haver uma monarquia democrática, ou uma timocracia tirânica (em que um comité votado democraticamente nas classes mais baixas impunha tirânicamente a sua lei), ou quaisquer outras combinações entre os dois campos.
Também Jorge Miranda, na sua "Ciência Política" faz distinção parecida, preferindo usar as expressões "Forma de Estado" e "Sistema de Governo". Apresenta-nos, numa espécie de resenha histórica, dois grupos diferentes que se podem multiplicar entre eles: Aristocracismo, Democratismo, Individualismo por um lado, e por outro Monarquismo, Republicanismo e Anarquismo.
Isto leva-nos a que as ideologias sejam necessariamente consideradas Formas de Estado. Assim o é o Comunismo ou Socialismo, bem como o liberalismo ou a democracia parlamentar. Ou seja, a Forma de Estado, não poderá ser nunca culpada dos insucessos ou exageros do Sistema de Governo, ao contrário do que era insinuado no primeiro comentário. Não sou eu que o digo... é Aristóteles, Jorge Miranda e Brecht.
Esta confusão, que por acaso se faz apenas quando se fala da URSS ou de Cuba (esquecem-se dos estados comunistas que iriam ser implementados democraticamente na América do Sul, todos barbaramente reprimidos pelos EUA), é aliás um sintoma evidente da lavagem intelectual a que somos sujeitos todos os dias pelos media.
5 - Sim. E é a mesma pessoa, que sempre teve estas opiniões, só que se começou a aperceber que, sem luta, dentro em breve não poderia apreciar Omar Kayyamm ou Al-Mutamid.