«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

sábado, janeiro 28, 2006

O Mundo Maravilhoso das Pessoas mais Inteligentes do que Nós

"Não posso dizer que Mozart seja o meu compositor preferido, nem sequer consigo ter um compositor preferido, mas Mozart nunca seria um candidato. Depois de perceber as maravilhas de Monteverdi ou de Schütz, depois de ter passado anos a ouvir a obra de Bach, depois de redescobrir um Handel destruído durante décadas por interpretações manhosas ao qual o Mozart não seria alheio, o Mozart que eu ouvia deliciado aos 10 anos, talvez nessa altura talvez tenha sido o meu compositor preferido, foi-se diluindo no seu génio fácil e perfeito num tempo próprio. Quando hoje olho para uma partitura de Wagner, um Tristan ou uma Walküre ou um Götterdämerung apercebo-me do génio relativo de Mozart, mas um génio maior apesar de tudo." HS, in www.criticomusical.blogspot.com
Parafraseando Joel Costa, que pena tenho eu de não pertencer ao Mundo Maravilhoso das Pessoas mais Inteligentes do que Nós.
É verdade. Sou um pobre coitado que gosta de Mozart. Eu ouço Mozart! Quase todos os dias, imagine-se! Tenho pena de não ser como o Crítico Musical, que ultrapassou essa fase quando tinha 11 anos. Eu vou já com 16 anos de atraso e não vejo forma de sair deste pântano de ignorância que consiste em reconhecer Mozart como um génio absoluto, tão sublime e simplificadamente incompreensível para a mente humana como Bach, Haydn e Beethoven.
Sou um pobre de espírito que ainda não descobriu as maravilhosas obras de Schütz. Confesso.. admito... não tenho paciência sequer para ouvir mais que 5 minutos de Schütz. A sua elevada técnica de composição e os seus elevadíssimos padrões de abstracção artística apenas se permitem ser apreciados pelas pessoas que pertencem ao Mundo Maravilhoso das Pessoas mais Inteligentes do que Nós.
E Wagner. Eu que tenho o desplante de achar que Mozart possui um leque de criatividade musical muito mais vasto que Wagner! Mozart é tão fácil de ouvir e Wagner tão complicado, tão cheio de técnicas inovadoras! Como poderei eu ultrapassar esta fase de ingnorância atroz?
E Haendel? Como não consegui ainda vislumbrar a alma secreta daqueles festivais musicais sem sumo, daquele barroco artificial sem ideias? Não tenho esta capacidade nata de ler por entre as linhas do ornamento sobre sempre o mesmo de Haendel!
Ah! Mozart? Qual Mozart! Isso é para o povo! Ele nem sabia interpretar Haendel no Séx.XVIII! Agora aprendi! Génio é o Schütz! Ah e o Monteverdi, o Monteverdi! Isso sim, é música para intelectuais! Muitíssimo superior ao Mozart. Mozart "não seria sequer candidato" a figurar no restrito grupo onde Schütz e Haendel ostentam a sua música!
Objectivo 1 para 2006: deixar de ouvir também o Verdi... (só se for às escondidas...).
Objectivo 2 para 2006: deitar fora aquele disco das obras para piano de Schöenberg pelo Pollini. O piano não era de 1920 (interpretação historicamente mal-informada).
Objectivo 3 para 2006: esquecer o Gould, o Lipati e o Klemperer (historicamente mal-informados).

3 Comments:

Blogger Imbecil&Idiota said...

Acho que malhar num tipo que se auto-intitula Crítico Músical tem sempre o seu mérito. Quantos às poses, aqui que ninguém nos ouve, era partir-lhe as pernas...

5:11 da tarde  
Blogger Ai meu Deus said...

Pela ironia do João topa-se facilmente ser detentor de conhecimentos técnicos. Eu, não: gosto de (e ouço) música... e pronto!

Posto isto, confesso: a música de Mozart delicia-me. As "Bodas de Fígaro" ensinaram-me a gostar de ópera, depois descobri os encantos da "Flauta Mágica" ou de um dos concertos ímpares dos números 20 (por receio não revelo se o 21 ou o 23) para piano e orquestra...

Para obter o perdão da minha eventual atracção por música pimba, aqui declaro também que o tal disco único qe levaria para a ilha haveria de ser de Bach. Uma cantata, acrescento, já agora. Para me salvar totalmente, não revelo qual (não seja o caso de ser alguma das mais pimbas).

...mas eu, insisto, não sou senão um humilde ouvinte de música.

3:49 da tarde  
Blogger Sérgio Azevedo said...

Claro que cada um tem direito à sua opinião. O que eu não percebo é porque é queo facto de gostar de Wagner impede de gostar de Mozart. Adoro Wagner e adoro mozart. Génios não se comparam, cada um traz qualquer coisa de pessoal e intransmissível. Mesmo os nomes menos significativos na história da música mas ainda assim entre os melhores, como Mendelssohn ou Saint-Saens, tem os seus momentos únicos e intransmissíveis. Em cada momento diferente da nossa vida poderemos ter mais necessidade de ouvir Mozart que Wagner, ou Verdi em vez de Stravinsky, ou Berg em vez de Frank, mas é uma asneira privarmo-nos de uns por causa de outros. Mozart nunca poderá transmitir o que transmite Wagner e vice-versa, não só porque eram pessoas diferentes, mas porque usaram técnicas e linguagens diferentes. E poderia haver um bilião de compositores como Mozart ou Wagner, que ainda assim não conseguiriam cobrir toda a riqueza e leque emocional do ser humano. Haveria sempre música para descobrir e emoções novas para sentir.


Abraço a todos,

Sérgio Azevedo

1:20 da tarde  

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