«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

domingo, fevereiro 26, 2006

Ricardo Alarcón

Ficam em baixo dois excertos de uma entrevista interessante que Ricardo Alarcón de Quesada (Presidente da Assembleia Nacional do Poder popular de Cuba) deu ao Semanário Brasil de Fato. A versão integral, que vale bem a pena ser lida, está aqui.


BF - Mas quais são os pontos caracterizam esse processo como revolucionário? Alarcón - Houve mudanças importantes, como a alfabetização, o desenvolvimento dos programas sociais. Colocou-se fim a uma casta política que foi tirada do jogo na prática. Foram criadas condições e dados passos para que o povo possa exercer seus direitos democráticos de uma maneira que nunca pôde, por meio dos programas de educação, de saúde. Essas coisas não mudam a estrutura básica da sociedade, mas criam condições para que isso possa acontecer e para que o povo possa exercer a democracia, a autoridade, e ser capaz de governar a si mesmo. Creio que isso é um feito revolucionário. Os momentos, os ritmos que se dão os processos revolucionários não têm que ser iguais. Por exemplo, se tivéssemos tido a oportunidade de fazer a reforma agrária cubana de um outro jeito, teríamos feito.

BF - Após a queda da União Soviética e do fortalecimento do bloqueio dos Estados Unidos, a economia cubana entrou em crise. Hoje, o país está vivendo um novo período na economia, com um crescimento de cerca de 11% no ano passado. Essa é uma nova etapa da revolução? Alarcón - Sim, mas seria um erro superestimá-la. Cuba conseguiu sair da crise econômica em que caímos quando desapareceu a União Soviética, mas não podemos dizer que a superou completamente. Mas o que explica isso? Uma série de fatores e muitos são inteiramente cubanos, como o setor turístico que cresceu cerca de 13%, por exemplo. O mais importante é que Cuba conseguiu aumentar sua produção petroleira- algo muito signifi cativo. Passamos muitos anos buscando isso e hoje temos associação com algumas empresas estrangeiras, do Canadá e da Europa. Fomos encontrando cada vez mais petróleo, e a produção foi crescendo substancialmente. Outra é a produção de níquel, que atingiu recordes nos últimos anos. Esse é um dado cubano, não tem nada a ver com os vínculos externos. Externamente, temos que falar da vinculação econômica com a República Popular Chinesa, com quem firmamos créditos a longo prazo, sem juros, o que ajudou a oxigenar a economia cubana. Com a Venezuela há acordos que envolvem petróleo.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Folhetim de Torga III

“Pelas frestas do quotidiano, os olhos curio­sos de criança iam ao mesmo tempo descobrindo, abusivamente inserido nessa unidade, o ultraje de uma vida elegante, faustosa, conven­cional e fácil. Cruelmente parasita do enxame que moirejava e abstraía, gente sem coração, desenraizada, possessa do demónio da preguiça e do desprezo, bebia, sem lhe sentir o gosto, o sumo agridoce do sacrifício e da ilusão dos outros. Era triste e desanimador. Mas uma ver­dade maior velava. E pelas ruas a cabo, daí a pouco, Santo António acima, Sá da Bandeira abaixo, Femandes Tomás além, calma, pacata, de corrente ao peito, a velha urbe retomava a humana dignidade.
Foi muito tempo depois, já quando a triste sabedoria dos anos me explicara as coisas mais
pelo íntimo, que voltei a ver a velha cidade. Regressava eu então de longes terras, seco dos Cearás da emigração, e punha em todas as lem­branças a saudade quente que nelas deixa uma infância por acabar. O Porto era uma dessas recordações. E da trémula ponte de D. Maria, suspenso do abismo fluvial e da minha emoção, verifiquei, deslumbrado, que estava diante do mesmo Porto de sempre, espraiado na sua encosta, firme, amplo, de boas cores camoesas, humoso e desgraçado na Ribeira, espiritual e feliz nos cumes das torres. A idade, os livros, e aquela ciência certa que o sofrimento nos traz, haviam-me já dado forças para conceber símbolos e decifrar enigmas. E pude descobrir finalmente o ovo de Colombo. Se todas as terras do mundo tinham o seu cartaz gustativo - queijadas, ovos moles, arrufadas, morcelas e pão de ló, para dar alguns exemplos -, o Porto tinha dois. Um, grosso, terroso, sujo como a trivialidade da natureza - as tripas; outro, subtil, etéreo, imponderável como a própria magia - o vinho fino. Um para a exigência das nossas pançadas lusitanas; outro para a sede sem fim da secura universal.
Bem sei que nem as tripas são fundamental­mente a comida desta terra, nem o vinho generoso nasce nas suas ruas. Mas o facto de Portugal e o mundo ligarem os dois nomes ao nome que designa este burgo, tornava evidente a justeza da síntese. De longe se viu que uma dualidade permanente, dialéctica como a vida, se perpetuava aqui, num fluxo e refluxo que só lhe davam grandeza e naturalidade. Espírito e matéria - são a soma da Vida. Uni-los, dar-lhes o sustento de que necessitam, ambrósia a um, dobrada a outro - não é vergonha: é autenticidade!

Assim compreendi eu o Porto dos meus vinte anos, e, desde então, pouco mais adiantei. Apenas consegui alargar o seu mítico horizonte, numa limpa e honesta meditação.
Nesse sentido, a ajuda maior que recebi foi a do senhor Agostinho Peixoto, que tinha loja de negócio na minha aldeia. Outros homens mais sábios e mais ilustres disseram-me, evidentemente, também coisas belas e profundas da cidade e da sua gente. Mas eram homens sábios e ilustres, os menos indicados para certas clarificações. Por isso os meus ouvidos abriram-se mais para as pala­vras simples do vendeiro.
- É de confiança? - interrogava a freguesia, a apalpar a chita.
- É do Porto, caramba! - arreliava-se ele.
Polícia reformado por causa do Trinta e Um de Janeiro, o honrado comerciante mantinha no desterro das berças, religiosamente acesa, uma brasa da fogueira onde arderam tantos corações. E à noite, quando os companheiros vinham para a bisca, perguntava à mulher se o chá era de couves para ferver tanto, e começava a sua história sem fim :
- Pois é verdade: o sargento principiou desta maneira: - Rapazes, isto há viver e morrer.
Mas, pela liberdade, eu acho que vale a pena arriscar tudo... - Estávamos na formatura. E eu perco a cabeça e digo: - Pois há-de ser o que for! Vamos a ela, meu sargento!
- A ela, a quem? - perguntava invariavel­mente o Pinto, quando a narrativa chegava à heróica e dramática decisão.
E o senhor Agostinho, sempre paciente na explicação do grande rasgo da sua vida, esclarecia:
-À liberdade, homem! A que havia de ser?!
Gordo, baixo, calvo, a medir copos de jero­piga, não era com facilidade que se partia dali para os mártires de 1828, para os heróis de D. Pedro IV, ou para os que tiveram num minuto de fé a alma de Antero a iluminá-los. Mas naquela encarnação grosseira estava retratado o Porto, pela razão simples de que tudo o que em si é de facto espírito-santo, em vez de eleger a habitual e alada pomba, corporiza teimosamente numa desajeitada e mais terrena ave familiar."
Miguel Torga, "Portugal", Porto

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Cada vez mais

E CADA VEZ SOMOS MAIS

Pela espora da opressão
pela carne maltratada
mantendo no coração
a esperança conquistada.

Por tanta sede de pão
que a água ficou vidrada
nos nossos olhos que estão
virados à madrugada.

Por sermos nós o Partido
Comunista e Português
por isso é que faz sentido
sermos mais de cada vez

Por estarmos sempre onde está
o povo trabalhador
pela diferença que há
entre o ódio e o amor.

Pela certeza que dá
o ferro que malha a dor
pelo aço da palavra
fúria fogo força flor
por este arado que lavra
um campo muito maior.
Por sermos nós a cantar
e a lutar em português
é que podemos gritar:
Somos mais de cada vez.

Por nós trazemos a boca
colada aos lábios do trigo
e por nunca acharmos pouca
a grande palavra amigo
é que a coragem nos toca
mesmo no auge do perigo
até que a voz fique rouca
e destrua o inimigo.
Por sermos nós a diferença
que torna os homens iguais
é que não há quem nos vença
cada vez seremos mais.

Por sermos nós a entrega
a mão que aperta outra mão
a ternura que nos chega
para parir um irmão.

Por sermos nós quem renega o horror da solidão
por sermos nós quem se apega ao suor do nosso chão
por sermos nós quem não cega e vê mais clara a razão
é que somos o Partido
Comunista e Português
aonde só faz sentido
sermos mais de cada vez.

Quantos somos?
Como somos?
novos e velhos: iguais.
Sendo o que nós sempre fomos
seremos cada vez mais!


Ary dos Santos

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Estados párias de todo o mundo, uni-vos!

14000 marines dos EUA desembarcaram na República Dominicana esta semana, num claro atentado à soberania de um dos países que o Império considera fazerem parte do seu quintal privativo.
Vale a pena, contudo, qustionarmo-nos acerca das reais intenções de tal reforço de contingente, num altura em que no país vizinho, Haiti, o candidato apoiado pelo Império está longe de poder vir a ganhar as eleições.
Estará a ser preparado um ataque à ilha toda? Uma plataforma para tomar Cuba? Ou estará a ser preparado um golpe de estado contra o voto do povo na Venezuela e Uruguai?

Viseu

O blog PorViseu está com novo fôlego, após ausência prolongada. E está de volta à minha lista.

Já nascemos escolhidos.

Chegou-me este texto ao email. Foi escrito, segundo me apareceu, pelo Miguel Esteves Cardoso.

"Primeiro, as verdades. O Norte é mais Português que Portugal. As minhotas são as raparigas mais bonitas do País. O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela. As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.

Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca.
Verde- rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas. Mais verdades. No Norte a comida é melhor. O vinho é melhor. O serviço é melhor. Os preços são mais baixos. Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia. Estas são as verdades do Norte de Portugal. Mas há uma verdade maior. É que só o Norte existe. O Sul não existe. As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta. Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte. No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista? No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.

Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país. Não haja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte é onde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro.
Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte. Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular. É esta a verdade.
Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte.
Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.

No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa. O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade. Em contrapartida, a conservação fantástica de
(algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.

O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas.
Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade.
Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.

Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem.

As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte.

Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos. O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório.
Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.

Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo.

Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.
No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima.

Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou
Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago.
Mas não é.
Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.

O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos? "

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Persas tolerantes

"Todos sabem que nunca murmurei uma oração
Todos sabem que nunca tentei dissimular os meus defeitos.
Ignoro de existe uma Justiça e uma Misericórdia...
Entretanto, tenho confiança, porque sempre fui sincero."

Ommar Khayyam, séc.XII

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Mais.

Mas há mais.

Nada a dizer. Um ultraje para quem produz alguma coisa e paga impostos.

""Finalmente, há ainda um outro aspecto importante que tem passado despercebido à opinião pública e aos media. Alguns órgãos de comunicação divulgaram que se a OPA se concretizasse os principais accionistas actuais iriam obter uma mais-valia de 5.000 milhões de euros, ou seja, de 1.000 milhões de contos. O que ninguém ainda mencionou é que, se isto for verdade, este "lucro" de 1.000 milhões de contos não pagará nada de impostos. É uma espécie de euromilhões multiplicado muitas vezes. E isto porque de acordo a alínea a) do nº2 do artº 10º do Código do IRS estão excluídas do pagamento de impostos "as mais-valias provenientes da venda de acções detidas pelos seus titulares mais de 12 meses". A injustiça fiscal que existe em Portugal é mais uma vez flagrante e chocante. ""

Eugénio Rosa

terça-feira, fevereiro 14, 2006

"Instróiam-me"

A "Edições 70" é uma boa editora e apresenta um critério editorial que habitualmente me agrada. No entanto, na tradução de Cícero que ando agora a ler deparei-me com palavras como:
"ecludir", "ajem" e "instrói". Tais erros (que não gralhas) são inqualificáveis numa edição séria de textos clássicos. Fui ver o tradutor.
Um professor de Teologia da Univ. Católica.
Padres.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Ziuganov

Entrevista com Guennady Ziuganov:

http://www.resistir.info/russia/ziuganov_set05.html

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Do nosso insignificante universo

"Que sabemos nós os ocidentais, que nunca passámos para lá do Suez, do Oriente e do mundo árabe? Sabemos o que nos queda, vago e impreciso resíduo, das leituras confluentes de vários autores em épocas várias."
Aquilino, "De Meca a Freixo-de-Espada-à-Cinta"

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Cícero aconselha Pina Moura e Duarte Lima

"O primeiro dever desta virtude consiste em evitar que um individuo cause dano a outro, a menos que isso seja motivado por injustiça e, seguidamente, em garantir que se utilize os bens comuns em proveito da comunidade e os particulares, no interesse de cada um".
Marco Túlio Cícero "De Officis".

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Marco Túlio Cícero

Quando leio Cícero raramente aprendo alguma coisa. É como se a minha capacidade de retenção ficasse, de repente, anulada. Ler Cícero trata-se de prazer puro. É necessário deixarmo-nos levar pelo orador e permitir que a sua retórica nos engane, nos convença. Assim. Saborear sem pensar.

O livro com que me ando placidamente a deliciar é o seu tratado "Dos Deveres". Por isso ficam prometidos para os próximos dias alguns posts sobre o assunto. O primeiro sai já hoje à noite. Garanto.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Confusões

Numa resposta a um comentário que me acusava de ter descido o nível do blog da discussão artística para a discussão política, escrevi um pequeno texto que julgo ser relevante para esclarecer a minha perspectiva das ideologias políticas. Modestamente, julgo que é pena deixá-lo apenas na caixa de comentário.
Aqui fica.
Resposta ao primeiro comentário:
2 - não vejo onde a reflexão política possa ser menos interessante, desafiante e até poética, que a reflexão literária. Remeto, aliás, a Platão "As Leis" e a Aristóteles "Política" para afirmar o contrário.
3 - O texto de Einstein não se reportava à URSS, antes ao Socialismo/Comunismo, e o que se passou ou deixou de passar na URSS não põe em causa nenhum dos seus argumentos. Para além disso, convém ter em conta a separação clara de forma de estado e estrutura de governo. Por exemplo, se um auto-denominado liberal decidir matar uns quantos milhões de pessoas é a teoria liberal que tem culpa ou foi apenas uma pessoa que se apoderou dessa denominação para, em nome de uma política, cometer crimes?
Volto a Aristóteles... ele, antes de ninguém, percebeu que tinha que haver uma distinção clara entre forma de estado e regime de governo. Dizia o estagirita no seu Likeu que poderia haver 3 formas de organização de estado:
a) monarquia, b) aristocracia, c) timocracia (palavra que na altura tinha uma conotação pejorativa muito próxima da que a palavra "comunismo" teve nos anos oitenta e noventa nas TV´s ocidentais).
Depois, em cada forma de estado, poderia haver três formas diferentes de exercer o governo:
a)tirania, b)oligarquia, c)democracia.
Ou seja, poderia haver uma monarquia democrática, ou uma timocracia tirânica (em que um comité votado democraticamente nas classes mais baixas impunha tirânicamente a sua lei), ou quaisquer outras combinações entre os dois campos.
Também Jorge Miranda, na sua "Ciência Política" faz distinção parecida, preferindo usar as expressões "Forma de Estado" e "Sistema de Governo". Apresenta-nos, numa espécie de resenha histórica, dois grupos diferentes que se podem multiplicar entre eles: Aristocracismo, Democratismo, Individualismo por um lado, e por outro Monarquismo, Republicanismo e Anarquismo.
Isto leva-nos a que as ideologias sejam necessariamente consideradas Formas de Estado. Assim o é o Comunismo ou Socialismo, bem como o liberalismo ou a democracia parlamentar. Ou seja, a Forma de Estado, não poderá ser nunca culpada dos insucessos ou exageros do Sistema de Governo, ao contrário do que era insinuado no primeiro comentário. Não sou eu que o digo... é Aristóteles, Jorge Miranda e Brecht.
Esta confusão, que por acaso se faz apenas quando se fala da URSS ou de Cuba (esquecem-se dos estados comunistas que iriam ser implementados democraticamente na América do Sul, todos barbaramente reprimidos pelos EUA), é aliás um sintoma evidente da lavagem intelectual a que somos sujeitos todos os dias pelos media.
5 - Sim. E é a mesma pessoa, que sempre teve estas opiniões, só que se começou a aperceber que, sem luta, dentro em breve não poderia apreciar Omar Kayyamm ou Al-Mutamid.