«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

terça-feira, novembro 16, 2004

Cidade de Ulisses

É conhecida a lenda que diz que Lisboa foi fundada por Ulisses.
Por um lado é óbvio que nos escritos de Homero e Virgílio não vem qualquer referência de que Ulisses por aqui tenha passado, nem sequer ultrapassado as Colunas de Hércules (Gibraltar). Por outro, parece-me claro que só os Romanos poderiam ter generalizado essa lenda, já que foram eles a nomear a cidade de Ulisipo.
De facto, os Romanos não nomeavam locais, cidades ou propriedades ao acaso. Teria sempre algo a haver com a situação de conquista, o contexto da época ou o fundador da propriedade ou localidade. Um bom exemplo da primeira hipótese é Bracara Augusta, um bom exemplo da segunda é Pax Julia, bons exemplos da terceira são as propriedades fundadas pelas seguintes famílias: Fromarici (Fromariz), Romarici (Romariz), Vermudi (Vermoim), Vimaranes (Guimarães), etc. Quanto às denominações e toponímias romanas será interessante consultar "Estudos Económicos - As Vilas do Norte de Portugal", Alberto Sampaio.
O que os terá levado relacionar a cidade com o "dos mil estratagemas"?
Somando a estas dúvidas, vêm as causadas pela descoberta de vasos gregos do período ático em Alcácer do Sal. Esta descoberta não prova que os gregos cá chegaram por via marítima, não prova que um grego fundou a cidade, mas prova que havia um comércio activo com povos de cultura helénica, não se sabendo desde quando.
Sabe-se que as civilizações clássicas abriam com frequência "feitorias" em portos distantes. Haveria por cá uma? A existência de vasos daquele período (ca. 500 antes de cristo) prova que viveu em Lisboa pelo menos um grego nesse período (não me parece que as ilustres tribos que por cá viviam se interessassem por arte deste cariz). Existe um polémico relato de viagens, "O Pérliplo de Hanão" que afirma que os Cartagineses dobraram as Colunas de Hércules no séc. V a.c....
Não havendo certezas, aguarda-se que a qualquer momento apareçam registos arqueológicos de artefactos que possam aclarar esta lenda. E se amanhã surgisse, perto de Lisboa, uma escudo micénico?...
Posso estar a incorrer em alguma falta de rigor, posso estar a cometer incorrecções, os Helenistas acharão esta tese algo disparatada mas, ainda assim, julgo que este assunto poderia ser objecto de estudo mais aprofundado. Seja para alimentar a fantasia, seja para nos colocar mais perto da realidade.