Ontem e hoje. Evolução?
"Foi Celofonte que, no poder, introduziu a diaboleia" Athenaion Politeia - Aristóteles
A diaboleia era um subsídio (mensal?) de dois óbolos por pessoa atribuido para garantir a assitência a espectáculos de teatro e música. Ou seja, em vez de se subsidiar os artistas, apoia-se o público. Desta forma, simultaneamente, evitam-se ociosidades ou círculos restritos de influência entre os artistas, garante-se a constância de uma actividade artística efeverscente e cativa-se, cultiva-se o público, abrindo-lhe perspectivas artísticas, diferentes visões do mundo, outros planos de pensamento em cada espectáculo.
Ou seja, na Grécia, há mais de dois milénios, o estado pagar-me-ia 2 óbulos para ir ver uma tetralogia de Eurípides. Em Portugal, hoje em dia, nem que estivesse disposto a pagar 500 euros, poderia ver a mesma obra ou equivalente, não sendo sequer exigente ao ponto de pedir qualidade de interpretação. ..
E quanto são dois óbulos? Não sabendo a medida monetária exacta, poderemos ir lá por comparação. No mesmo documento, "Constituição dos Atenienses", Aristóteles (ou um dos seus discípulos, a autoria da obra não é garantida) refere que, na mesma época, um Arconte (político no topo da carreira) recebe 2 óbulos de subsídio de alimentação em dias de reunião do conselho. Ou seja, eu receberia o equivalente a um subsídio de refeição do Presidente da República. Já daria para ir a um concerto por mês.
Dois óbulos, curiosamente, é também a conta para outra função. Ainda da "Politeia": "De facto, para os que possuem rendimento familiar inferior a três minas e estão mutilados a ponto de não poderem fazer nenhum trabalho, há uma lei que determina que o conselho os examine e lhes seja atribuída, pelo erário público, uma pensão alimentar de dois óbulos por dia".
Noutra passagem refere-se que o arconte recebe afinal 4 óbulos, mas que é obrigado a manter o arauto e o flautista:
"Há os seguintes pagamentos de serviço público: em primeiro lugar, o povo recebe uma dracma para assistir às reuniões ordinárias da assembleia e nove óbulos para a sessão principal; para integrar o tribunal, três óbulos; para o conselho, cinco óbulos. Aos prítanes é atribuído mais um óbulo como subsídio de refeição. Além disso, os arcontes recebem 4 óbulos cada um, mas têm de manter o arauto e o flautista. [...]".
Regredimos em alguns pontos. Mantivemos outros. Nem piorámos muito de então até hoje. Nada mau...
5 Comments:
Parabéns! Um blogue muito bem escrito, que por momentos nos transporta no tempo, na imaginação, e que nos deixa a impressão de ter aprendido algo com cada parágrafo. Estou certo que valerá a pena lê-lo frequentemente. Cumprimentos,
Miguel
Uma perguntinha: por acaso o João não é das terras de viriato, toca violino e vai de fim de semana a S. Pedro do sul? Não me leve a mal a indiscrição, mas é que eu tenho um primo com o seu nome e o gajo até essa mania dos gregos e das arábias tem.
cumprimentos(ou um abraço, no caso de seres "O" João)
Sim, sou eu.
É a merda de só se poderem escolher os amigos. Pudesse escolher-se a família a ver se eu não escolhia uma judaica. Era um instante. Limpava-vos o sebo a todo. Seus árabes malditos. Sarracenos...
Sou tão árabe como o senhor, tão judeu e tão celta. Somos da mesma cepa.
A Ibéria é uma região que tem muito de semita. Os espanhóis compreenderam há muito a grande herança cultural de que dispunham. Nós, bacocos, continuamos a olhar para a Europa, tentando ser franceses, tentando ser cegos face à evidencia que não é do norte que somos. É do sul.
Quanto aos dislates menos próprios que profere agradecia que não os colocasse em comentários. Se o fizer, agradeço que assine, já que atitudes dessas ou são assumidas ou perdem o valor.
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