«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Política Cultural

Caros Barnabés:
Permitam-me acrescentar algumas coisas ao vosso debate sobre a cultura. No entanto, antes ainda de prosseguir na ordem de ideias deixem-me perguntar porque raio é que Pedro Burmester seria um bom ministro da Cultura. Não percebo. Ele é bom pianista. Lá isso é. Não dos melhores, mas é um solista de consumo interno, coisa que nos faz muita falta. Mas que eu saiba, um bom pianista não faz um bom ministro da cultura. É preciso ter a noção do que é a cultura em Portugal. Quer a nível de teatros regionais, actividade profissional, actividade amadora, escolas especializadas (conservatórios de música, teatro e dança, etc.). O que sabe o Sr. Burmester destas e doutras coisas? Geriu o Porto2001. Onde estão, hoje em dia os resultados palpáveis desse programa? Onde estão as programações regulares, contínuas, as pequenas produções de bairro, a cultura barata mas para todos? Cultura, quer queiram quer não, não é o Gato Fedorente no meu Cine-Teatro municipal. O que o Sr. Burmester conseguiu para a música em Portugal, para além de copiar as Variações Goldberg do Gould, foi gerir um futuro elefante branco (Casa da Música), tão grande e tão branco, ou ainda mais, que o São Carlos.
Vou começar pelas escolas de artes oficiais ou equiparadas e passo depois à programação cultural propriamente dita. Existem 6 - conservatórios - 6 do estado no país. Estas escolas são grátis e localizam-se em Lisboa (2), Porto, Braga, Aveiro e Coimbra. Um conservatório faculta aos alunos a frequência do ensino artístico secundário. Sem o frequentar durante oito anos, nunca o aluno poderá entrar numa Escola Superior de Música. Todos os outros conservatórios (Viseu, Évora, Castelo Branco, Torres Novas, Guarda, Covilhã, etc, etc, etc) são pagos e bem pagos. Cerca de 50 euros por disciplina por mês. Como um aluno tem de frequentar em média 4 disciplinas, fica na módica quantia de 200 euros por mês.
Porque é que o estado não me há-de dar a mesma oportunidade de ensino artístico, pelo simples facto de eu ter vivido em Viseu? É evidente que, sendo conservatórios pagos, os professores dependem da frequência dos alunos. O seu salário, o seu orçamento familiar depende de ter muitos alunos. Ora isto impede que o nível de exigência suba. Ninguém pode ser muito severo com as horas de estudo diárias de instrumento; ninguém pode ficar muito zangado se o estudante diz que só anda ali para passar o tempo. Afinal de contas, ele paga o meu empréstimo da casa. Não é assim que se criam artistas e muito menos públicos...
Em Lisboa, por outro lado, é grátis. Como é grátis, todos podem frequentar e, logo, há provas de entrada e uma lista de espera para frequência. O nível sobe; nenhum menino anda lá a passar o tempo. Se não estuda reprova. Se reprova duas vezes sai da escola, porque há outros na lista de espera, nos quais o dinheiro do estado pode ser mais bem gasto.
E que tal, caso existisse um conservatório do estado em cada capital de distrito, fazer um contrato com os professores obrigando-os a fixarem-se na cidade e a realizar três concertos de música de câmara por ano em igrejas do concelho?... bom, mas já estou a ir noutro caminho.
(Nota: estou a tomar a música como exemplo, mas a dança e o teatro vivem exactamente a mesma situação, senão pior.)
Mais ridículo, para os 6 - conservatórios do estado - 6 em 18 - distritos - 18, existem nada mais nada menos que... 6 - universidades de música do estado - 6 voltadas para a performance musical de alto(?) nível. Ou seja, o estado acha que todos os alunos dos seus conservatórios vão, em última análise, parar às suas instituições superiores. Parece-me que nada disto faz sentido. É o mesmo que o estado tivesse tantas universidades quantas as escolas secundárias oficiais.
Quanto à programação cultural propriamente dita:
Antes de mais acabem-se os subsídios a artistas e a criadores. Os subsídios centrais a artistas têm uma carga de injustiça enorme. Todos nós que trabalhamos nas artes percebemos como as atribuições funcionam e sabemos, de antemão, quem vai ficar com o dinheiro e com quanto. Os criadores é um caso ainda mais grave. Quem faz a distinção entre o que faz sentido estético e não faz? Quem é o iluminado que sabe que determinada linha artística é relevante no panorama da arte contemporânea internacional e qual não é? Qualquer dia até os Madredeus são música contemporânea. A senhora dos bidons, por exemplo, à conta de tudo isto está a fazer carreira no CCB.
Cada vez mais, vemos artistas pregando que são bailarinos contemporâneos a receber dinheiro do estado para fazer disparates a solo no palco. Vemos coreógrafos a dizer que a essência do espectáculo para o qual receberam dinheiro do IA é o facto de ser dança não coreografada. Os bailarinos sentem o momento, os músicos improvisam no palco, e nós pagamos do nosso bolso tudo isto! Que tal eu estar em Castelo Branco e ver uma sinfonia de Mozart, ou uma comédia de Aristófanes? Que tal eu estar no Teatro Viriato e poder ver uma peça de Beckett em vez de meia dúzia de gente disforme a fazer um espectáculo a fingir que é teatro. Será que aquela gente sabe estar em palco, sabe falar, sabe projectar a voz, sabe dançar? Eu acho que sonatas de Beethoven, quartetos de Mozart e sinfonias de Haydn fazem parte do meu direito intrínseco de crescimento cultural, esteja eu onde estiver. Será que alguém tem ideia de quanto custa fazer um espectáculo destes por semana numa cidade do interior (um trio à sexta-feira, um pequeno diálogo de Platão no sábado, etc)? Pouco, muito pouco. Fica menos o ano todo, que pagar ao Rodrigo Leão para ir lá uma vez.
Não se deve subsidiar artistas e criadores, mas devem-se subsidiar mercados e públicos. Vamos supor que, em cada capital de distrito havia um Teatro Municipal com condições (e há, só que todos estão ao abandono). Porque não contratar 18 programadores para dirigir cada um destes teatro e 18 assistentes de produção. Cada um deles teria um orçamento para gerir no que toca à logística, e outro no que toca à programação artística. Mas atenção! Não poderiam programar à sua vontade! Juntamente com o dinheiro receberiam uma tabela de obrigações. Vamos supor: do total de concertos, 60% seriam de música de câmara, 30% de música coral e 10% de música sinfónica. 40% teriam de ser fora da capital de distrito e 10% fora de capitais de concelho. 50% teriam de conter música portuguesa, dos quais metade teria de ser contemporânea. Teria de haver, pelo menos, duas obras encomendadas por ano a compositores portugueses com menos de 40 anos e um trabalho musicológico de recuperação e apresentação de obras portuguesas antigas.
Assim, haveria música para todos os ouvintes, concertos para todos os artistas que quisessem trabalhar a sério, edições de música, encomendas para todos os compositores, honra e concertos para os grande compositores que fomos tendo ao longo dos séculos e um crescimento cultural equalitário no território nacional. E sem gastar muito mais dinheiro que no sistema actual. O mesmo para o teatro e para a dança. O cinema é diferente. Um dia me debruçarei sobre isso.
Este tipo de acção estatal coordenada com os conservatórios do estado, seus professores e alunos que acima referi, poderia mudar radicalmente a face da cultura em Portugal. Para melhor.
E para que serve a cultura? Disse-me um amigo, César Viana, que a cultura, não sendo entretenimento (e não é nem pode ser), tem uma função essencial para a economia de um país e sua produtividade. A arte trata de relacionar o abstracto com o palpável, o racional com o emocional, o real com a estrutura. Alguém que consome arte com frequência consegue utilizar melhor os recursos de que dispõe. Seja um gestor a organizar tarefas para a sua equipa, seja um trabalhador individual a tomar opções para a eficácia do seu trabalho, etc... Um operário que tenha ouvido música, consegue compreender mais rapidamente o livro de instruções da sua máquina de trabalho. Porque será que as pessoas na Suécia conseguem ler horários de comboio e nós não?...
Se tudo isto fosse assim, talvez um dia um espectáculo da Clara Andermatt fizesse sentido, talvez mesmo uma obra de Stockausen fosse compreendida pelo nosso público, talvez até a companhia Paulo Ribeiro entrasse com naturalidade no plano cultural da nossa gente. Até lá, deixem-se de coisas, porque sem Mozarts, Beethovens, Tchekovs, Aristófanes, Sófocles, Becketts, Haydns, Tchaikovskys e Camilos em todo o lado e para toda a gente, o Rei da arte contemporânea vai nu (ou então parece) e a cultura não evolui do feudalismo.

14 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Do século XVIII conhecemos hoje o Mozart, o Haydn e mais uns quantos compositores. No entanto, sabemos que houve naquela altura muitos mais. Muitos mesmo. Só que com o tempo pudemos fazer uma "filtragem" do trabalho de todos, e podemos então hoje apresentar o que "merece" ser ouvido do Séc. XVIII.

Quanto aos nossos contemporâneos isto é impossível. Não podemos pretender ser completamente imparciais em relação a pessoas que conhecemos e de quem temos uma ideia formada também em termos pessoais, porque há pessoas que "jorram" simpatia, e outras que são naturalmente mais reservadas ou mesmo antipáticas. E nada disto tem a ver com a sua competência.

A única solução, a meu ver, é dividir os financiamentos em duas partes. Uma, para levar a todo o lado, como muito bem dizes, os Sófocles, os Becketts, etc.

Outra, para a criação, que também deve ser levada a todo o lado. Sabendo que algumas das obras que se financiam agora vão cair no esquecimento no futuro (como o Salieri); o que não podemos é deixar que os nossos "Mozarts" morram na miséria para serem reconhecidos só daqui a 200 anos.

Helena Romão

6:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ah, esqueci-me: só mais uma pergunta.

6 universidades estatais? Eu conto 4: a ESMAE, a UA, ESML e Universidade de Évora. A Metropolitana é privada (e muito bem paga) e a Escola de Artes da Católica, é da Católica.

6:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mas nas mãos dos privados está ela (a criação)! Nas do Estado é que não está de certeza! E onde anda? Onde é que se vêem/ouvem os compositores contemporâneos?

1. Nas Universidades. Seria bom, se os instrumentistas tivessem que tocar as obras dos colegas compositores, o que possibilitaria que, tal como em França, os exames finais de Composiçãõ fossem como os dos instrumentistas: um concerto.
Assim, as obras podiam ouvir-se na prática e através de tentativa e erro, os compositores poderiam escrever de facto aquilo que querem ouvir. É que só com umas aulas teóricas de Organologia ou Orquestração não se chega lá! Tal como a um flautista não lhe serve de nada saber só como funciona a flauta ao nível organológico, tem que tocar mesmo.

Deveria haver uma disciplina que juntasse compositores e instrumentistas, e que seria muito boa para todos. Os compositores ouviriam o que escreveram e teriam o acesso aos instrumentistas que conhecem muito melhor os instrumentos e poderiam sugerir até melhores maneiras de escrever uma determinada intenção musical. Os instrumentistas teriam a oportunidade de ver uma peça a surgir, a melhorar. Poderiam ver como funciona todo o processo de composição, e teriam a disponibilidade do compositor para fazerem todas as perguntas sobre o como e o porquê de determinada nota ou passagem.

Mas como sabemos, isso não existe, salvo raras excepções de concertos avulsos (em Lisboa há a série "Peças Frescas" com cerca de 3 concertos por ano), tocados por alguns instrumentistas voluntariosos, que acrescem assim esse trabalho ao que já têm normalmente.
São quase sempre os mesmos instrumentistas, os poucos que se voluntariam para esses concertos, e que, por serem só alguns, estão sempre a receber pedidos dos compositores. Além disso, qualquer peça para orquestra está excluída.

2. Há a iniciativa da Gulbenkian de 2 concertos anuais em Lisboa, no encerramento do Workshop de Jovens Compositores. Como sabemos, o petróleo tem um horizonte de 30 anos no máximo, e não sei se o da FCG durará tanto.

3. Há o Música Viva, que desde há 2 anos teve que diminuir o número de dias de festival por falta de verbas.

4. Há a Orquestrutópica, que depende dos subsídios do Estado para cumprir ou não as suas temporadas anuais.

Estas duas últimas iniciativas, um festival e uma orquestra/associação/temporada de concertos , têm alguma itinerância e algum sucesso ainda limitado. No entanto, e em conjunto com o Remix, são os únicos que atraem algum público não especializado e podem realmente servir de montra aos compositores. As poucas verbas para o seu funcionamento são cada vez mais diminutas e, se vamos pensar que cabe aos privados financiá-las, os privados vão pedir que se encham salas de concertos logo desde o primeiro dia e garantidamente. Eles têm por vezes salas cheias, de facto, mas para isso ser garantido à partida, teria que se atraír aquela camada de público que vai por razões sociais, e que apenas frequenta a FCG, o Coliseu ou o S. Carlos.

5. Há o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa (o nome exacto não é´este, mas neste momento falha-me), fundado pelo Jorge Peixinho. Ultimamente tem tido muito pouca divulgação e penso que muito poucos concertos.

6. Finalmente, e honrosa excepção, o Remix, que, salvo erro, é de iniciativa estatal e que se mantém com óptima qualidade.

7. Há alguns coros que fazem música coral contemporânea, mas cuja exposição é muito limitada.

8. Há a Sinfonietta, que faz alguns concertos com alguns compositores portugueses, mas quase sempre o mesmo pequeno grupo. Os concertos costumam encher. No entanto, é uma orquestra que não funciona em permanência, funciona por projectos. Quando há´concertos agendados, reúnem-se para ensaiar. Como calculas, isto é um bom acrescento ao salário de um instrumentista, mas não é vida. E porque é que é´assim? Porque há pouco mecenato em Portugal e o que há quer apostar em concertos garantidos.

9. Há ou havia (ñao se percebe bem) o projecto das orquestras regionais, algumas já em funcionamento. A das Beiras tinha (ou tem, não sei) um programa variado, com os Mozarts, os Beethovens e os contemporâneos. Tudo isto na zona das Beiras. Ao que sei ía fechar, depois já´não, e agora já não sei em pé isso está.
Esta era uma boa iniciativa, excelente, mesmo.

10. Requiem para os dois festivais de Aveiro, as Jornadas da Nova Música e o Síntese que só teve uma edição.

11. Requiem igualmente para os Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea.

Uma empresa não é um centro de beneficiência, pensa apenas e só nos lucros. Só apoia uma iniciativa, se souber que vai ser feita publicidade a um número de pessoas suficiente para cobrir o custo. Só o Estado pode cumprir essa tarefa de dar dinheiro para onde ele é necessário sem pensar no retorno monetário.


Quanto ao aspecto de saber a quem dar, claro que é sempre um tiro no escuro, mas é possível fazer uma pequena avaliação e saber o que é ou não honestamente Arte. E a meu ver prende-se precisamente com a questão da honestidade. A relevância a longo prazo é difícil de determinar, mas se se eliminarem as fraudes artísticas já é um bom começo.
Por exemplo, através de entrevistas com os artistas, em que eles falem um pouco das suas intenções e dos resultados obtidos, dos projectos para o futuro; como é que aquele seu trabalho pode influenciar a sociedade, que interesse tem ele para a sociedade, como se insere na sua carreira.

10:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Assinatura (do anterior): Helena Romão

11:00 da tarde  
Blogger JD said...

Helena:

Não tenho nada contra a música contemporânea. Gosto de muita música feita desde 1950. Mas como não tenho muito tempo neste momento para escrever, dou só exemplo de como tudo pode ser volátil.

Deste o exemplo do Festival Música Viva e daOrquestrutópica. Eu acho que Festival Música Viva e Miguel Azguime são uma farsa, charlatães a roubar dinheiro ao estado. Lembro-me de estar no CCB a trabalhar e ver aquela gente a pedir para ir lá tirar fotocópias porque não tinham dinheiro para as pagar (ao mesmo tempo, sabia eu que tinham recebido 25000 contos de subsídio do IPAE).

Por outro lado, acho que Orquestrutópica é um dos melhores projectos nacionais dos últimos anos. Honesto, com uma função social e artística relevante, não é um sorvedouro de dinheiro, etc.

Se queres que te diga, acho a Orquestrutópica bem mais importante que o Remix Ensemble. o Remix é fácil de fazer... o dinheiro jorra, é uma iniciativa institucional. A Orquestrutópica não. Iniciativa privada, gente a tentar dar o seu melhor para fazer boas coisas com o pouco dinheiro que arranjou.

Só para mostrar como a decisão no que toca a dar dinheiro a novos criadores pode ser dúbia e arriscada.

11:59 da manhã  
Blogger JD said...

Quanto ao ensino superior público de música:

ESMAE, ESML, UA, UÉvora, ESART. Afinal são 5 (se não contarmos com as musicologias)...

12:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Em Lisboa há mais uma escola de musica que foi esquecida neste debate (e ainda bem!!)

Academia de musica de santa cecília (AMSC) para os que não sabem é uma colégio particular, com propinas semelhantes aos demais e que recebe os meninos desde o pré-escolar até ao 12º ano. Para além do ensino “normal” a escola “oferece” (com apoio do Ministério da Educação) a formação musical. Quando terminam o 12º ano, os miúdos tem uma equivalência qualquer que os certifica como se tivessem frequentado o conservatório.

Assim que o meu filho mais velho fez os 3 anos foi de imediato para lá, era precisamente este projecto escolar que queríamos.

A actual direcção da escola em vez de se focar nas notas musicais e nas pedagogias modernas, está mais orientada para a angariação do dinheiro necessário á construção de uma nova escola (pois actualmente a escola funciona em instalações completamente degradadas).

Como é fácil perceber as minhas preocupações pedagógicas e musicais chocaram de frente com as preocupações economicistas da direcção da escola.

Aos 6 anos lá mudou para outra escola, onde tem piano como extra-curricular e que custa uma pipa de massa todos os meses.

Como o problema não foi isolado, outros pais chegaram a ir ao ministério para se informarem da viabilidade de projectos semelhantes. Saíram de lá com a informação (não oficial claro está) que a AMSC tem uma influência forte no ME, e impossibilita a viabilização de projectos semelhantes (pelo menos na zona de Lisboa).

Este é apenas mais um dos retratos do Portugal dos pequeninos.

5:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não aos subsidios estatais para a criação artística, seja ela qual for. Ela é sempre superior nos países onde esses subsídios não existem, onde é preciso mostrar, convencer primeiro que o que se quer e pretende fazer tem substância. Aqui o mecenato pode ter um papel muito importante, pois quem o faz gosta de apostar. E é dos países onde os subsídios estatais à criação não existem que nos vem muitas vezes o que de melhor se faz, o que de melhor se cria. Faz-se, cria-se, inova-se para obter a recompensa. Não o contrário. Por isto é que somos tão pequeninos. Muitos arranjaram uma forma de ganhar a vida à custa do contribuinte que é cada um de nós.

11:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Não aos subsidios estatais para a criação artística, seja ela qual for. Ela é sempre superior nos países onde esses subsídios não existem, onde é preciso mostrar, convencer primeiro que o que se quer e pretende fazer tem substância. Aqui o mecenato pode ter um papel muito importante, pois quem o faz gosta de apostar. E é dos países onde os subsídios estatais à criação não existem que nos vem muitas vezes o que de melhor se faz, o que de melhor se cria. Faz-se, cria-se, inova-se para obter a recompensa. Não o contrário. Por isto é que somos tão pequeninos. Muitos arranjaram uma forma de ganhar a vida à custa do contribuinte que é cada um de nós.

11:46 da manhã  
Blogger César de Oliveira said...

acerca do fim dos encontros de música contemporânea da gulbenkian, o seguinte:

julgo ter interpretado devidamente o gesto da direcção da gulbenkian quando digo que a música recente estava pronta a incluir a programação "normal". dessa forma, acaba a separação de "tribos" (refiro-me ao público). os encontros cumpriram um papel fundamental, e cumpriram-no bem. agora, as diferentes idades da música coexistem de facto e as coisas são como sempre deveriam ter sido.

um abraço aos dois (helena e joão pedro)

5:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro João Delgado

Ao ler os post colocados acerca da Política Cultural, mais concretamente do panorama Cultural em todos os seus níveis, não quis deixar de manifestar a minha opinião sobre algumas afirmações que me parecem graves, e outras cujo conteúdo considero não só objectivo como útil.

Começo por me identificar, uma vez que ao contrário de outros, pois o anonimato é totalmente desprezível, não tenho qualquer receio em expor as minhas opiniões nem sequer em debate-las num contexto sério, construtivo e enriquecedor. Sou estudante do Curso de Composição da ESMAE, no Porto, logo estou directamente implicado quando se referem aos jovens compositores ou aos que estão incluídos no sistema de ensino que forma novos valores. Antes disso, frequentei o Conservatório de Música de Coimbra. Para finalizar, não foi a província que me castrou, uma vez que sou natural e passei toda a minha vida até à adolescência no Interior profundo da Nação, concretamente na Beira Interior, onde iniciei os meus estudos de música. Deste modo, creio que não me falta experiência sobre vários dos aspectos que foram focados neste post e que me encontro à vontade para os debater com alguma credibilidade. Fica ao critério.

No que diz respeito aos Conservatórios e às instituições de ensino artístico em geral, será útil dizer que o seu propósito não deverá ser formar nem artistas nem público, mas sim proporcionar conhecimento que possibilite ao seu portador o desenvolvimento de exigências no que toca à fruição da Arte e potenciar as aptidões do indivíduo no que toca ao exercício da Arte como um profissional. Isto porque há aqui dois planos distintos: o papel Social e o Serviço Artístico. Um pouco como no “secundário”: proporciona-se saber e cabe ao aluno decidir o que quer ser no futuro, ou seja, não há garantias de que o aluno vai seguir o ensino superior – a profissionalização- , mas ao menos retem o conhecimento. Não vou entrar na polémica sobre se é isso que se passa ou não.

Ao dizer que por o ensino ser gratuito é melhor, ou que por ser pago os níveis baixam, só pode estar a referir-se a um campo estritamente teórico. A sociedade Portuguesa é transversalmente atravessada por uma ideia de que pouco ou nada se deve pagar. A justiça com que o retorno desse pagamento é feito é que acredito não estar a ser concretizada. Há uma série de considerações a tomar quando se diz que há listas de espera para entrar nas escolas; a saber: a logística – se as salas estão cheias, onde se põem os alunos? O sucesso escolar – se os programas pedagógicos, os objectivos das disciplinas e o interesse dos alunos funcionar, o tempo previsto para a conclusão dos estudos não será excedido; no entanto, reprovar não constitui nenhum crime; se um aluno reprova numa escola onde paga, a opção é sua (ou do encarregado de educação) de continuar a frequenta-la; se reprova numa escola onde não paga, a própria escola deve ter os mecanismos que filtrem esse insucesso para dar lugar ao próximo. A subsistência financeira das escolas – tanto numa escola pública como privada, a sua subsistência depende dos resultados; tanto mais se se trata de uma escola pública, onde o desperdício do bem público não deve existir. Quero com tudo isto dizer que não é com uma escola em cada capital de distrito, ou num futuro próximo, de regiões urbanas, que o problema se resolve. Porque não é por haver um conservatório público em Viseu que a actividade artística no que toca à música melhora, uma vez que o acesso que terá a essa escola comporta uma nova discriminação: que dirá o aluno de uma localidade dos concelhos de Castro Daire ou Lamego sobre isso? O seu prejuízo em relação ao acesso ao ensino em Viseu é o mesmo em relação ao Viseu – Lisboa: porque obriga a despender tempo em deslocações, dinheiro em alojamento e alimentação. Por último, considero ser totalmente ditatorial querer obrigar alguém a estabelecer-se numa cidade que não da sua escolha: a menos que se aplique a tão falada discriminação positiva com recurso a incentivos e nunca com recurso a imposições. Esses músicos não podem ser obrigados a tocar, ainda para mais em igrejas, como disse – talvez fosse melhor considerar que há repertório adequado a diferentes tipos de espaço devido às suas condições acústicas. Se indica com tamanho afinco que o intuito é fruir da música, então que seja em condições plenas. O tema Educação é demasiado extenso e delicado para caber num parágrafo de um blog, mas ficam alguns apontamentos.

No que toca à questão da arte contemporânea, há afirmações que me merecem o maior repúdio. A começar por onde é escrito “Antes de mais acabem-se os subsídios a artistas e a criadores.”, passando por “Eu acho que sonatas de Beethoven, quartetos de Mozart e sinfonias de Haydn fazem parte do meu direito intrínseco de crescimento cultural, esteja eu onde estiver.”, até “Porque não contratar 18 programadores para dirigir cada um destes teatro e 18 assistentes de produção.”. Penso que a forma como aborda a arte contemporânea, a música em particular, demonstra que não deverá dedicar muito tempo do seu crescimento cultural a esse campo. E digo isto porque assisti a um embrulhar de assuntos tão distintos como difíceis de tratar.

A principal confusão é entre o consagrado e o promissor. Como disse Helena Romão, e muito bem no meu entender, o processo de criação passa muitas vezes ou deve mesmo passar pelo processo de tentativa e erro – a questão é que há uns que acertam mais vezes que os outros. Quem deve ditar o sucesso do criador é o público, no usufruto do seu Serviço Artístico. Ainda que ligado ao meio, considero-me antes de mais alguém que pretende usufruir daquilo a que tenho direito e por conseguinte dar o meu contributo na avaliação da obra. A sua qualidade não deve antes de mais residir numa avaliação empírica, nem numa avaliação puramente técnica, mas provavelmente numa combinação entre a minha disposição para aquele local e aquela obra, e a forma como a narrativa se mostrou coerente nos seus princípios, equilibrada na sua clareza e exímia no rigor da execução. Ninguém é o supra-sumo do julgamento estético e nem isso deve existir – como o regime russo quis fazer com o controlo das artes, por exemplo. Logo, o governo não serve para estabelecer os princípios das artes, mas sim como regulador, dinamizador e protector das artes. A atribuição de dinheiro directamente aos criadores é ilusória, certamente: os fundos são atribuídos a festivais, instituições, companhias, organizações, entre outros. Estes devem ao máximo partir de iniciativa privada, como noutros sectores da sociedade, pois o meio artístico deve auto-regular-se. O exemplo da OrchestrUtópica é basilar, pois os seus objectivos são claros e parte de privados. As instituições do Estado ou directamente regidas pelo mesmo é que devem proporcionar as mesmas oportunidades aos criadores. Será discutível quem merece ou não mais apoios, mas para isso deixo apenas um comentário: o apoio à consagração deve ser substituído pelo apoio á confirmação.

Outra confusão é entre a Arte de Ontem e Arte de Amanhã. Como deve saber, todos os autores que nomeou, Mozart, Beethoven, Tchaikovsky, estão Mortos. A sua importância é imensa. O peso que assume em cada um de nós, tanto o repertório contemporâneo como aquele que cita, demonstra a identificação com esse mesmo. Gostaria que me explicasse porque assume que para desfrutar do repertório contemporâneo é necessário conhecer todas as Sonatas de Beethoven, os quartetos de Mozart e as Sinfonias de Haydn, como se a audição fosse nada mais que uma resenha histórica? O “direito intrínseco de crescimento cultural, esteja onde estiver”, aplica-se a todas as formas de arte independentemente do espaço e do tempo.

Outra, é assumir que ao “contratar 18 programadores para dirigir cada um destes teatro e 18 assistentes de produção” os problemas se resolvem. Se se encontra tão preocupado com o garante da qualidade, quem garante que esses programadores são isentos? E quem garante que as suas opções são as acertadas e que todos os espectáculos que contratam são os melhores e aqueles que ficam para a História? Assumirão o papel dos “iluminados” que decidem o que é artisticamente relevante?

Queria também informa-lo de que o modelo que sugeriu de percentagens para as várias áreas é o modelo que vai ser proposto para a Casa da Música, a julgar pelo que foi dito por Couto dos Santos em entrevista ao Jornal de Notícias no mês de Janeiro. Não duvido de que existirão outras instituições na Nação com este tipo de planeamento.

A delgadito, sobre “Não cabe ao estado arriscar em valores que poderão (com muita probabilidade) não oferecer retorno à sociedade”, um comentário: desconheço se é empregado ou ainda não exerce actividade. No caso de ser empregado, quando o seu empregador o contratou arriscou no seu valor, independentemente de ser o estado ou uma entidade privada a faze-lo. O retorno à sociedade é feito com o seu trabalho e a tão falada produtividade. Para além de que nem vale a pena comentar afirmações como “Actualmente, a arte contemporânea não é fundamental para a educação de um indivíduo”. Cada qual sabe de si...

A Helena Romão, dizer que de entre as suas constatações que reflectem de uma forma muito consciente e informada o panorama nacional, dizer apenas que o programa curricular do curso de Composição da ESMAE contempla a execução de obras, onde se pode ler que a conclusão do 3º e do 4º ano implica a realização de um concerto, não só com peças próprias, mas principalmente. Isto para além de outras actividades que proporcionam a execução e essa aprendizagem mútua de que fala. Creio que noutras escolas, para além das “Peças Frescas”, há peças tocadas mas que não chegam a ser divulgadas.

Para finalizar, pretendo apenas que o debate da Reforma da Cultura, que é no essencial o que se está aqui a falar, seja feito com uma única finalidade: a melhoria do sistema em que vivemos, pois isso irá provavelmente levar a uma sociedade sofisticada e exigente, no fundo, aquela que demonstra uma actividade cultural dinâmica e evolutiva.

Atentamente,

David Miguel

3:51 da tarde  
Blogger JD said...

Sr. David Miguel:

1 - No meu país pago impostos, logo julgo ter alguns direitos, tais como educação e cultura. De graça. Sim, de graça. Chama-se well-fare state e dá muito bons resultados por aí. Se for preciso mais impostos, paguem-se. Não vou discutir a organização das sociedades neste contexto, ainda assim não encontro gravidade em declarar como meu direito intrinseco o acesso gratuito e constante às grandes obras de arte da humanidade.

2 - É bastante dispatarado o seu argumento da relação Viseu-Lisboa, Castro Daire-Viseu. Nesse sentido, se Castelo Branco tem um hospital, Benquerenças tem direito a reivindicar um? Ordem de grandeza, circuscrição política, aglomerado social. É por isso que o seu argumento não colhe. E já vi escolas muito boas a funcionar em terras do tamanho de Castro Daire.

3 - Escolas artísticas públicas numa distribuição razoável pelo país não tem nenhuma com a distinção ensino específico/ensino geral. Isso é outro tipo de discussão (forma, local, enquadramento). Tem a ver, isso sim, com as condições mínimas de um país que se quer civilizado.

4 - Subsídios à criação: como não entendo o argumento com que me tenta refutar, não posso fazer mais nada senão manter o que disse.

5 - Programadores em capitais de distrito: não, não resolveria o problema das capelinhas, da corrupção na atribuição de subsídio, do tráfico de influências. Mas multiplicava as influências a traficar por 18; parece-me que com toda esta variedade há condições de maior justeza. E já agora, que diabo!, também no interior temos direito a um bocadinho de corrupção. Não a queiram toda para Lisboa e Porto. 18 avos de tráfico de influências para mim, por favor! É a descentralização...

6 - O problema na Casa da Música vai ser precisamente o cálculo percentual. Qual a percentagem para música ligeira?

7 - Quanto a promissores, consagrados e coisas afins, diga-me uma coisa: Acredita no seu trabalho criativo? Acha que merece ser alvo de apoio do estado? Presumo que sim. Julga-se promissor? Pois é. Tenho uma novidade. Os outros todos também se acham, também se julgam. Qual é o critério? Quem é mais promissor? Nos anos 70 era quem escrevia mais quintinas. Nos anos noventa era quem ousava usar mais acordes maiores. E agora? Qual é a moda?

8 - Gosto de música contemporânea. De alguma. Já toquei nas peças frescas, mesmo depois de estar fora da ESML. Toco música contemporânea em concertos. Já gravei um disco com música feita há coisa de 10 minutos antes. Mas num compositor aprecio, acima de tudo, honestidade, interesse pela obra e interesse por quem a ouve. Um compositor não tem de se servir a si próprio, mas sim aos outros.

9 - E já agora, o pararelismo entre uma obra de arte e um empregado produtivo é notável. Estou certo que o delgadito explorará essa pérola retórica.

12:14 da manhã  
Blogger Roberto Iza Valdés said...

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