«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

terça-feira, janeiro 11, 2005

Pequenas Histórias

As grandes Histórias de Portugal têm a vantagem de analisar a fundo cada facção, cada crise, cada momento de sucesso, cada personalidade e cada revolução. Têm, no entanto, o problema de apresentar um enorme espaço para interpretação, para tomada de posição do historiador, para colocação política do narrador face aos acontecimentos.
A grande virtude que encontro nas pequenas histórias é exactamente o facto de não se permitirem apresentar muito mais que simples factos, deixando as conclusões à capacidade de raciocínio do leitor. Mesmo quando são tomadas posições, o historiador acaba por não ter possibilidade de as fundamentar devidamente por falta de espaço e apreço pelo equilibrio estrutural da obra.
Ainda assim não resisto a comparar a análise de um chefe de estado feita por António Sérgio (num livro que me desiludiu muito) e por José Hermano Saraiva (num livro que, afinal, me surpreendeu positivamente). José Hermano Saraiva diz-nos que D. Sancho II caiu apenas por sua própria culpa. Sempre deu mais uso aos seus pequenos poderes em prol de si mesmo que aos grandes poderes de que dispunha, em prol do país. Por esta pequenez de espírito, pelas intrigas, pela circunscrição política ao Paço, sem haver repercussão fora dele, D. Afonso III (referido como um verdadeiro salvador) conseguiu o trono. António Sérgio (que muito respeito pela independência de espírito, pela racionalidade pura e desapaixonada e pela capacidade analítica) prefere apresentar-nos D. Sancho II como alguém cujas políticas de desenvolvimento atingiram alguns interesses instalados, nomeadamente o poder clerical, tendo sido destituido por força de conluios desonestos e intrigas junto do papado.
Ainda que, como referi, o dito livro me tenha desiludido - Breve Interpretação da História de Portugal - , julgo ser mais seguro acreditar na versão de António Sérgio, cuja fama de crítica pura independente bate por muito a de José Hermano Saraiva.
Mesmo na simples apresentação dos factos, a perspectiva política acaba por vir à tona.