Mais política cultural
Fui ao programa eleitoral do PS, e mais uma vez choquei no principal problema da política cultural...
"...conseguir um equilíbrio dinâmico entre a defesa e valorização do património cultural, o apoio à criação artística, a estruturação do território com equipamentos e redes culturais, a aposta na educação artística e na formação dos públicos e a promoção internacional da cultura portuguesa."
Ou seja: Património, equipamentos, educação artística, nova criação e promoção internacional.
Neste vasto leque de objectivos, não encontro espaço para programações regulares de música, dança e teatro universais. Mozart não é uma criação contemporânea, Eurípides não é património físico português, os bailados de Tchaikovsky não são passíveis de entrar em programas de educação artística e Brahms não promove a cultura portuguesa no estrangeiro. Logo, o que se prevê para a próxima legislatura passa por:
- muitas obras musicais chamadas lxc.34z ou ...quid est... ou ainda Univeral1352!
- Lúcia Cigalho a levantar os braços e as pernas tentando convencer os alunos do ensino básico que aquilo é dança contemporânea, enquanto estes atiram aviões de papel uns aos outros.
- Madredeus, Rodrigo leão e Mísia a fazer concertos em França, Japão e Canadá subsidiados pelo Estado Português.
- Pauliteiros de Miranda e Adufeiras de Monsanto a fazer concertos em Espanha com dinheiro do Estado.
- Construção de equipamentos culturais (salas, teatros, etc, etc) nos quais depois não há dinheiro para manter um director artístico, sua equipa e sua programação semanal.
- ruínas romanas a dar com pau.
Simultanemente vive uma margem enorme da população que tem direito a uma sinfonia ou a uma ópera e não pode ver. Gente pouco iluminada, é certo, que se recusa a tentar compreender Azguimes e Claras Andrematts. Gente antiquada, que se acha no direito de ter uma formação cultural constante de média/boa qualidade sem que o dinheiro dos seus impostos seja entregue sem critério.
Como diria o gajo de Alfama no Gato Fedorento: "mais! outra!":
"...património literário e artístico em ambientes e suportes multimédia."
Suportes multimédia??!!! Para o património literário??!!! Toca a ler Camilo crianças! Se não querem, então dá-se-lhes Eça que é mais fácil. Não querem? Obriga-se, pois então. Não querem? Reprovam.
E já agora que aprendam que Portugal nasceu oficiosamente em 1143, que no dia 5 de Outubro não foi a restauração da independência e o que era a dinastia de Borgonha.
E ainda:
"O Governo do PS continuará a apoiar financeira e tecnicamente as orquestras regionais, revendo a legislação de enquadramento, e encarará como preocupação prioritária contribuir para que ressurja uma orquestra na região Centro. A mesma orientação presidirá à participação na Orquestra Metropolitana de Lisboa."
A Orquestra Metropolitana de Lisboa? Mas não era um projecto privado?
Um orquestra no Centro? Qual? A das Beiras? Parece-me que a melhor coisa que podia acontecer à cultura do centro seria deixar de contar com a Filarmonia das Beiras. Assim, podia ser que nas câmaras não se desperdiçasse milhares de contos anuais com aquele disparate, criando elas próprias as suas iniciativas musicais. Todos ficariam a ganhar; os músicos, os concelhos e os públicos (nomeadamente o seu aparelho auditivo).
Mas também há lá coisas boas:
"Será melhorada a cobertura territorial da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, com concursos anuais e particular atenção às necessidades diferenciadas dos municípios, de acordo com a sua dimensão." Embora vaga, é uma tomada de posição.
E principalmente:
"A regulamentação da Lei do Cinema e Audiovisual far-se-á de modo a prevenir os riscos de confusão entre cinema e audiovisual e entre produção independente e produção das grandes cadeias de televisão, assim como valorizar a decisão de júris independentes e rotativos."
Para que, de uma vez por todas, não se confunda a "Sorte Nula" com o "Vale Abraão".
E é tudo. Peço desculpa pela incisão e concisão.
13 Comments:
Caro João:
Um pormenor: as orquestras regionais são todas privadas, no sentido em que são geridas por associações e, por tanto, não são directamente tuteladas por um ministério ou por uma autarquia. Esse é, por exemplo, o caso da Orquestra do Norte, sendo também o caso da Metropolitana.
Era bom trazer também à conversa os programas do Bloco de Esquerda e do PSD, porque introduzem alguns conceitos, quanto a mim, interessantes: acesso, identidade, indústria... Ainda não fui ver os programas do PP e do PCP, mas lá iremos.
E, já agora (sem querer sem indiscreta), algum dos membros do quarteto é blogueiro?
Um abraço, Teresa.
Sim. De facto, as orquestras regionas são tuteladas por associações privadas mas, é notório que 99 % dos seus orçamentos são constituidos por protocolos das câmaras que, ao assinar, esgotam os seus recursos.
Assinado o protocolo da orquestra, a câmara entende que a sua obrigação cultural para com os munícipes cessou. Por um certo dinheiro, a câmara prescinde da sua responsabilidade.
Tento ser incisivo neste tipo de posts, mas não sou tão pessimista nem tenho opiniões tão absolutas. É uma forma de alerta em relação aos caminhos (errados a meu ver) que a política cultural tomou no meu período de vida.
Quanto ao quarteto, sim, sou o violetista.
bom João, fiquei com pena de saber que para ti a Orquestra das beiras não faz sentido, mas fica aqui a pergunta, porque foste lá fazer provas?
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Fui lá fazer provas porque a dignidade dos músicos em Portugal anda muito em baixo. Não há concertos para música a sério e para pagar o empréstimo da casa é preciso por vezes rendermo-nos às evidências do sistema de distribuição de verbas.
Fui lá ainda tentar provar um ponto de vista (que não consegui, porque não entrei): sempre toquei violino, tocava viola há cerca de uma semana (ainda mal lia clave de dó) e tentei mostrar que um violinista ganharia facilmente um concurso aos violetistas de carreira. Assim não aconteceu, tenho pena mas não deu. Mas agora já consigo ler clave de Dó. Talvez seja diferente da próxima... Garanto-lhe, no entanto, que hoje em dia não aceitaria qualquer cargo de instrumentista em Orquestras regionais. (excepção aberta, talvez à do algarve).
Tenho todo o gosto em falar de todos os assuntos, mas não gosto de falar para anónimos. Por favor identifique-se da próxima vez. E também não aprecio ser tratado por tu por gente que não conheço. Ah! E se está tão interessado na minha carreira musical, sugiro que apareça num concerto do Quarteto de Cordas São Roque nos próximos tempos. Tem várias hipóteses: Teatro S. Luís, Pequeno Auditório CCB, Teatro Municipal da Guarda, Rio de Janeiro, S. Paulo, etc. Obras de Vianna da Motta, Schubert, Mozart e César Viana.
Caro João:
Muito me interessou saber que foi fazer prova à Filarmonia das Beiras para "brincar" às orquestras, pois para além de nos ter feito perder tempo, quis pregar uma brincadeira de mau gosto aos violetistas. Para que não restem dúvidas (até porque também não gosto de anónimos), fui 1º clarinete da Filarmonia das Beiras desde o primeiro programa até ao último dia, e por acaso até estava na "prova" em questão que o João efectuou. Na minha terra um ditado popular diz que se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo, e pelos vistos confirma-se, pois que se na altura supostamente não era (visto que agora já é) violetista, naõ foi preciso o júri saber do facto para ajuizar em conformidade. Também me custa entender essa necessidade de "provar" que os violinistas são melhores que os violetistas, apesar de eu achar que ser violetista é mais do que saber ler em clave de dó... Eu sei ler em todas as claves de dó, fá e sol, e nem por isso consigo sequer dar uma nota na viola!!!. Se desgosta assim tanto dos violetistas porque toca agora viola num quarteto? Já não havia lugar nos violinos? Pergunto-me... Mas falemos de coisas sérias... Muito me folga saber que o João considera assim tão "dispensável" uma orquestra neste Portugal de si já tão mirrado na oferta cultural fora de Lisboa e Porto. E já agora pergunto-me também, já que convida o anónimo a assistir aos vossos concertos, se o João alguma vez viu actuar a Filarmonia das Beiras para ajuizar o seu valor... è que falar por falar... Claro que concerteza o João acha que é mais importante uma Câmara Municipal investir no seu quarteto do que numa orquestra... Eu pela minha parte preferiria que se investisse nos dois, mas jamais seria capaz de atacar um com o intuito de sobrar mais para o outro. Também gostaria de saber onde foi buscar a ideia de que «é notório que 99% dos seus orçamentos são constituídos por protocolos das câmaras»... Faz ideia de quantas foram as câmaras que assinaram protocolos que nunca cumpriram? Faz ideia de quão atrasado algumas pagavam (muitas vezes anos)? Compreende que cerca de 35 agregados familiares dependiam muito ou mesmo exclusivamente daqueles ordenados? Tudo bem que o João não queira (agora!!!) fazer parte duma orquestra, mas o princípio da democracia é precisamente respeitar a opinião dos outros. Uma última questão: tem noção que a Filarmonia era a orquestra regional que empregava mais portugueses, violetistas e não só?
- As razões que me levaram a fazer provas para uma orquestra de cuja existência discordo são as mesmas que me levam a dar aulas num sistemas de ensino onde não me sinto representado. Já as afirmei antes. Infelizmente não se pode viver só de ideais. Tem que se pagar o empréstimo da casa entre outras coisas.
- Quanto às outras considerações não acho relevantes.
- Sim, toco viola no quarteto porque já não havia lugar para violinos. Tive a sorte de encontrar três amigos que tocam bem melhor que eu e que me aceitaram no seu trabalho.
- Nunca quis gozar com os violetistas. Mas são factos os que eu e toda a gente constata. Toco, aliás, agora viola a tempo inteiro.
- Sim, acho que o dinheiro público devia financiar mais concertos do meu quarteto e do que da Orquestra das Beiras, pelo simples facto de nós fazermos um melhor trabalho. Aliás, muito melhor.
- Sim, já vi por várias vezes a orquestra das beiras a tocar para avaliar da sua péssima qualidade. Incontáveis orquestras ad-hoc ao longo dos tempos foram fazendo trabalho melhor.
- Se o dinheiro da orquestra não vem do estado e das autarquias, donde vem?
- Se os 35 agregados familiares estão na penúria, dignem-se a dedicar-se ao ensino ou concorram a orquestras melhores (as boas orquestras não costumam acabar de um momento para o outro).
- Tem toda a razão. Nunca aceitaria qualquer cargo numa orquestra das beiras ou do género hoje em dia. E acredite que tenho recusado muitos reforços em orquestras de renome para dar corpo à minha opinião, apesar de 60 ou 100 contos aqui e ali darem jeito.
- É também democrático respeitar a minha opinião (e de muita gente) muitissimo negativa acerca da orquestra das beiras.
- Acho muito bem que seja a orquestra que emprega mais portugueses. Mas, à luz do direito comunitário, estou certo que terá sido fruto do acaso ou da elevada qualidade daqueles, já que uma selecção baseada na nacionalidade é ilegal.
- Respeito-o bastante, provavelmente até nos conhecemos, mas não leve estas coisas tão a sério nem seja tão agressivo.
Mais uma coisa.
Fazer provas no maior numero de orquestras possivel não é brincar às orquestras. É trabalhar para evoluir no que toca a provas públicas. A orquestra das beiras foi a primeira a que fiz prova e não me parece que isso seja brincar. É preciso fazer muitas provas para ganhar calo. Saberá isso tão bem como eu.
Caro João:
Compreendo muito bem o que é ganhar calo… mas também compreendo que igualmente os 35 agregados familiares têm empréstimos de casas e não só para pagar, e que aliás acreditaram na boa-fé de uma instituição que desde o início baseou a sua política de contratação em acordos ilegais (vulgo recibo verde para trabalho dependente). Se o João está no ensino não por vocação mas para sobreviver, lamento, mas não obstante tem a obrigação de compreender que talvez haja pessoas que até optaram por tentar fazer o que gostam, ainda que isso lhes tenha custado o emprego. Mais, desses 35, talvez aí uns 32 até dão aulas, e foi apenas esse facto que os impediu, literalmente, de morrer à fome.
Mas prossigamos…
Não compreendo o que quer dizer com «Nunca quis gozar com os violetistas. Mas são factos os que eu e toda a gente constata.» - significa isto que não existem violetistas por vocação? Quem é toda a gente? Eu sou do Porto e garanto-lhe que na Escola Superior de Música do Porto não há assim tantos violinistas frustrados a tocar viola…
Sabe que eu quando jovem estudante ganhei variadíssimos prémios de Música de Câmara, e também acho que muitos quartetos de clarinetes tocam melhor que a maioria dos quartetos de cordas…
Pena que não tenha também assistido aos bons momentos da Filarmonia, como com o maestro Eldoro, ou a acompanhar grandes solistas como Jorge Moyano, para nomear apenas alguns. É verdade que nos últimos anos o nível da orquestra vinha a declinar progressivamente, mas é também necessário conhecer as premissas para tal ter acontecido. Sem conhecimento de causa acho deveras imprudente sequer falar sobre o assunto. De qualquer forma se a opção sempre que algo começa a correr mal é desistir em vez de apoiar, então o nosso país nunca, mas nunca, crescerá artisticamente.
«Se o dinheiro da orquestra não vem do estado e das autarquias, donde vem?» - talvez nunca tenha ouvido falar de mecenato… e mesmo que fosse 100% subsidiada pelo estado, tal não dava o direito a pugnar pelo seu encerramento, senão também não poderiam existia escolas de ensino artístico públicas…
Também lamento informá-lo que mesmo as boas orquestras correm o risco de fechar, e por essa Europa fora muitas estão “no fio da navalha”. Quanto a acabar de um momento para o outro, concordo que é facto inédito, mas estamos em Portugal… pense nas dezenas de fábricas que fecham para ferias e já não abrem…
Quanto à legalidade/ilegalidade das admissões, relembro-lhe que a orquestra foi criada em 1997, numa altura em que eram apenas 15 os estados-membros da União, e que não foram os espanhóis, franceses, ingleses, alemães, holandeses, belgas, finlandeses, etc., que vieram fazer provas, mas os polacos, russos, búlgaros, etc., nessa altura bem extra-comunitários. E apenas mencionei tal facto para provar a qualidade de muitos músicos lusos, que ainda e sempre tentam remar contra a maré.
Uma última nota para esclarecer que é da pluralidade que advém o crescimento cultural de um povo, e a diversidade não deve nunca ser substituída por quaisquer critérios de pretensa objectividade qualitativa.
Desejo-lhe muitos sucessos para o vosso quarteto, como desejo muitos sucessos para todas as orquestras regionais, nacionais, escolares, amadoras, de jovens, todas, desde que para construir uma não se tenha que destruir nenhuma outra.
Cumprimentos.
P.S.: não creio estar a ser agressivo, e sim apenas a exercer o direito de contraditório.
Tenho-lhe a dizer que também acho inaceitável toda e qualquer precaridade de trabalho como a que acontece na filarmonia das beiras. Acho que com bons contratos e salários razoáveis se faria, de certeza, melhor música.
Quanto a concertos, a verdade é que já vi muitos e foram todos bastante maus. Mas admito que possa ter tido azar.
TAmbém acho a diversidade importante, mas penso que com o dinheiro gasto (mal gasto no meu entender) em orquestras regionais de poderiam fazer centenas e centenas de concertos nas mais variadíssimas formações com uma qualidade muito superior.
Quanto a quarteto de clarinete e/ou de cordas, Beethoven, Brahms, Mozart, Schoenberg, Debussy, etc, etc, tinham uma opinião bem diferente da sua, pelo menos a avalar pela incomensurável obra que deixaram para quarteto de cordas e, perdoe a ignorância, se não me engano o nada que deixaram para quarteto de clarinetes... Para além de que são grupos incomparáveis em termos de dificuldade de afinação.
Alerto-o ainda para alguma falsa moral. Quando fiz prova para essa orquestra lembro-me bem que não havia cortina e que, por mero acaso, entraram os habitués de reforços em quase todos os instrumentos (no clarinete aliás, foi um exemplo de injustiça). Há muitos músicos na filarmonia das beiras que pura e simplesmente não conseguem tocar o instrumento deles. Eu já os ouvi, em audições da ESML, em recitais, etc, e é medonho. E estão lá, por vezes em cargos de destaque, entraram em prova pública e, sabe-se lá como, ganharam.
Sei também que, depois de todas as confusões relativas à orquestra das beiras, houve músicos dessa instituição que combinaram entrada na orquestra de câmara de coimbra, tendo-se inventado um concurso para inglês ver, e depois forjado entradas. Houve gente que foi a esse concurso prestar provas, tocou claramente melhor que todos os outros e não entrou porque estava tudo combinado com a filarmonia das beiras. (fonte: o próprio maestro de coimbra).
Pois é. Nem sempre as coisas são justas, mesmo na filarmonia das beiras. O certo é que em prova de cortina aprecem depois muitas surpresas. Assim, sem ela, não há riscos...
Quanto à minha relação com o trabalhop ou com as aulas, é um assunto privado que só a mim diz respeito. Mas não sou hipócrita, se ganhasse o totoloto a primeira coisa que fazia era deixar de dar aulas no conservatório.
Caro João:
Verifico que lamentavelmente é impossível argumentar para lhe tentar mostrar quão obtusa e fechada (na minha opinião) é a sua atitude quanto à música em geral, e aos projectos de descentralização cultural sustentada (não perene como os grupos ad hoc que tanto defende) em particular. Infelizmente são posições como a sua que levam ano após ano os diversos responsáveis políticos a manter em banho-maria a cultura em geral e a música em particular. Enquanto em vários outros países – não é preciso ir mais longe, aqui ao lado em Espanha há inclusive uma associação de orquestras regionais – a classe musical luta pela melhoria da MÚSICA e não de uma subclasse em particular, em Portugal continua-se à boa e velha maneira latina a tentar “subir” falando mal dos outros. Ainda hoje recebi um e-mail onde se contava de uma aula dada pelo grande escritor moçambicano Mia Couto, e de onde se poderia retirar a ideia que um dos principais problemas da sociedade moderna é partir do princípio que “os culpados são sempre os outros”. No seu caso, o problema para o facto de o vosso quarteto não ter mais concertos parece ser a circunstância de existirem orquestras regionais… não o vosso eventualmente bom ou mau nível artístico, não o livre arbítrio dos responsáveis das Câmaras Municipais de preferir uma orquestra a 4 músicos, não a crónica falta de um circuito de música de câmara em Portugal… não… o problema é as câmaras darem dinheiro às orquestras regionais… Visão muito curta!!!
Quanto aos quartetos de clarinetes versus quartetos de cordas, parece-me que lhe escapou a ideia principal, pois digo e reafirmo: conheço mais vencedores de concursos nas classes de música de câmara (JMP, Prémio Jovens Músicos) em quarteto de clarinetes que em quarteto de cordas… e, como o próprio João afirma, não é por falta de repertório… Já agora por falar em repertório, acho, quanto a este assunto, nem valer a pena discutir consigo uma vez que me parece o João ser daqueles músicos para quem a história da música acabou em Bártok ou por aí. Por isso falar-lhe de um Elliot Carter, ou um Jean Françaix é perfeitamente nulo.
Já quanto à acusação seguinte não só é necessário discutir como exijo mesmo um esclarecimento. O João afirma: “no clarinete aliás, foi um exemplo de injustiça”… Desafio-o a provar onde residiu tal injustiça, e espero que com conhecimento de causa, porque, a menos que tenha estado a assistir às provas invisivelmente sem que eu me tenha apercebido, tal insinuação é inadmissível vindo de alguém que ao que parece fala por ou em abono de outrem. Se alguém se sente e/ou sentiu injustiçado deveria ter falado comigo logo na altura, mas pode obviamente fazê-lo agora ou em qualquer momento que deseje. É precisamente porque para mim não existem vacas sagradas que eu me sinto perfeitamente à vontade para confrontar e ser confrontado por qualquer, e repito QUALQUER, pessoa que tenha estado presente naquelas provas. Espero sinceramente que esclareça o que quis dizer com tal afirmação, sob pena de não passar de mais um fala barato.
P.S.1: a ser verdade a situação que descreve em relação à Orquestra de Coimbra, tal facto é obviamente reprovável, e tanto quanto a mudança de nome dessa orquestra de “Orquestra de Câmara de Coimbra” para “Orquestra de Câmara do Centro” aproveitando a anterior sigla (OCC) e o fim da Filarmonia.
P.S.2: se me saísse o euromilhões garanto-lhe que compraria vários concertos de orquestra e também mesmo do seu quarteto.
Claro que é impossível, claro que a culpa é minha.
Deixe-me dizer-lhe que é intelectualmente muito desonesto.
- Eu nunca disse que não apoio as orquestras regionais porque queria mais concertos para o quarteto. Disse simplesmente que se gasta demasiado dinheiro com tais agrupamentos que são de péssima qualidade, mal geridos, dirigidos por maestros ridículos, onde tocam músicos ridículos e pouquissimo profissionais, onde as provas de entrada são escandalosamente viciadas a torto e a direito e onde a incompetência musical, salvo raras excepções, é regra. À orquestra das beiras e à orquestra do norte ouvi eu vezes sem conta tocar, e quase sempre estivemos perante a 5ª sinfonia de schubert, a 5ª de beethoven ou a incompleta de schubert. Ou então, em concertos inimagináveis de valsas de ano novo em janeiro. Gincharias veradeiramente desenfreadas, inacreditáveis para os fundos que são canalizados para lá!...
- Para além de ser sobranceiro e desonesto intelectualmente, não seja paternalista. Eu sei bem o que é mecenato. o que ainda não me conseguiu explicar é quem são as empresas que, qual boas samaritanas, financiam o orquestra das beiras. E, se há assim tantas, qual a razão desta crise... Continuo a dizer que, directa ou indirectamente, é o estado que financia em 100% as lamentáveis orquestras regionais (lamentéveis a todos os níveis, até no tratamento sub-humano que dão aos músicos, eu também sei disso).
- A falta de estruturas culturais descentralizadas fixas no país não pode abrir portas a toda e qualquer mediocridade disfarçada de projecto sério.
- Esqueça o meu quarteto que se lhe faz mossa, mas eu preferiria bastante ouvir um quarteto de clarinetes a tocar todos os meses na minha terra do que a orquestra das beiras. A qualidade seria, sem dúvida melhor. E muito mais barato! Digo quartetos, trios, quintetos, canto e piano, pianistas, etc.
- As câmaras das beiras dão-se ao luxo de ter uma orquestra, mas a maior parte das terras não tem sequer um piano decente.
- Quando um país não tem dinheiro e quer descentralizar e tornar comum o acesso à música não esbanja dinheiro em orquestras. Programa muita música de câmara e muitos instrumentos solistas. (todas as semana, se for preciso). Diga-me lá se assim não havia música para todos e trabalho para todos?
- Deu-me o exemplo de espanha, eu dou-lhe o da Bélgica, de Inglaterra, da Holanda. Não há muitas orquestras regionais. Quase nenhumas! Guardaram o dinheiro para que toda a terrinha tenha um piano de concerto e possa fazer concertos de pequenas formações todas as semanas. Eu não ando a inventar estas coisas! Informo-me. Em vez de terem um concerto de uma orquestra mediocre duas vezes por ano, como Viseu, Castelo Branco ou Guarda, assistem a concertos de formações mais pequenas semanalmente. Diga-me lá se não faz sentido?
- Não estou a dizer mal de tudo ou a invejar. Não tenho ambição desmedida. Tenho apenas esta presunção esquisita de que posso democraticamente ter opiniões, mesmo que não coincidam com o pensamento geral.
- O Luis Castro fala de Aveiro, se calhar de Coimbra, provavelmente de Lisboa, mas esquece-se que o problema de descentralização reside em Macedo de Cavaleiros, S. Pedro do Sul, Viseu, Guarda, Celorico da Beira, Fundão, etc, etc, e que nestes sítios a filarmonia das beiras não toca, ou toca uma vez por ano, ou no máximo duas, não resolvendo assim qualquer problema de centralização cultural no litoral. E sabe porquê? Porque, apesar de medíocre, é muito cara. Com o dinheiro de um concerto far-se-iam dez ou vinte de música de câmara. Acho que em Mogadouro as pessoas prefeririam a segunda opção, mas os senhores iluminados do litoral é que sabem...
- Mia Couto é um iletrado e analfabeto. Peço desculpa mas isso ninguém me tira da cabeça. Não me faça comentar frases dele.
- Quanto a quartetos de clarinete versus corda. Quero-lhe dizer que respeito tanto uns como outros. Gosto mais, obviamente, dos de cordas. O repertório é bem mais interessante. Gosto da música do séx.XX, e por isso desafio-o a ir ver se Bartók, Françaix ou Carter escreveram mais quartetos de cordas ou de clarinete... Mas não façamos disto uma discussão estúpida. Já basta o que nos divide bastante em outros assunto.
- Mas ainda quanto a este assunto, gostava de lhe perguntar se concorda comigo ou não: o grau de dificuldade para conseguir uma interpretação satisfatória de um quarteto de cordas é consideravelmente mais elevado que de um de clarinetes?
Ainda que fosse intelectualmente desonesto, pelo menos mentiroso não sou… E continuo à espera que clarifique publicamente a acusação inadmissível que publicou em relação à minha pessoa… Doutra forma assumo que proferiu um disparate grave que não me sugere absolutamente mais nenhum comentário (e que o seu blog lhe sirva para poder publicar quantas baboseiras quiser… que o ouçam as alminhas que assim o entenderem).
Apenas uma achega: falou da Holanda mas talvez não tenha consciência que apesar de ser um país com menos de metade do território de Portugal, tem muito mais população e, e muito, mas mesmo muito mais orquestras, várias com funções regionais, só não têm esse nome! E mais, para ver que eu não conheço só clarinete, posso dizer-lhe de fonte segura (aliás seguríssima!) que, por exemplo, harpistas existem p’ra aí uns 400 na Holanda, e há trabalho para todos, e mais, todos se conhecem e até trocam trabalhos, quando um não pode sugere outro e vice-versa. Em Portugal são só p’ra aí uns 7 ou 8 e praticamente nenhum fala com o parceiro… Esta atitude, como a sua em relação às orquestras regionais (relembro-lhe o que disse em 31 de Janeiro último: “Parece-me que a melhor coisa que podia acontecer à cultura do centro seria deixar de contar com a Filarmonia das Beiras.”, isto só para que entenda que eu leio TUDO o que escreve, e não apenas a parte que mais me interessa!!!), faz-me lembrar aquele velho comportamento tipicamente português: eu só estou bem com o mal da minha vizinha!
Já agora, informe-se melhor para saber quantas vezes a Filarmonia tocou qualquer das sinfonias que refere… Talvez tenha uma surpresa!
Mas já me alonguei demais. Reitero aquilo que disse quando comecei: esta discussão apenas me sugere mais comentários assim que esclarecer a gravosa calúnia que proferiu a meu respeito.
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