«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

quinta-feira, novembro 18, 2004

A Religião

Quase todas as religiões se fundaram numa base mística, com objectivos contemplativos, filosóficos, gnósticos e revolucionários. Algumas tiveram a capacidade de se manter assim. Outras não... É o caso do Islão e do Catolicismo. Se havia espíritos abertos ao pensamento total por entre os sufis islâmicos ou os monges católicos, estas duas religiões renderam-se definitivamente à prosaica mistura com o que eles chamam "a sociedade actual". Soçobraram às tentações materialistas do mundo dos homens. Não conseguiram manter o vigor da disciplina perante as múltiplas hipóteses de poder ao dirigir tanto povo. S. Paulo havia-o logo anunciado, ao subverter a doutrina de Cristo à cidadania do Império Romano. No Islão este processo é, apesar de tudo, mais compreensível já que não foi constituído como doutrina pura, mas também como organizador político dos homens.

Tanto o Cristianismo como o Islão contêm a tolerância no seu âmago. O Cristianismo esqueceu-a sete séculos depois da fundação, o Islão esqueceu-a os mesmos sete séculos depois (o nosso século XIII). Coincidências? Não terá a haver com o período de gestação e crescimento de uma religião?

Fazem-nos falta homens como o grande sufi Ibn Arabí de Múrcia, pupilo místico de Al-Oriani de Al-Ulya (Loulé).

"O meu coração abriu-se a todas as formas: é uma pastagem para gazelas, um claustro para monges cristãos, um templo de ídolos, Caaba de peregrino, as tábuas de Tora e o Alcorão. Pratico a religião do Amor; qualquer que seja a direcção em que as caravanas avancem, a religião do Amor será sempre o meu credo e a minha fé." Ibn-Arabí, Sufi de Múrcia, Séc.XIII