Dúvidas antigas
"Está claro agora que tem de haver legislação sobre a educação dos jovens e que esta tem de ser conduzida num sistema público. Mas tem que se considerar qual a melhor forma de o processar. É necessário ponderar se se conduz a educação em direcção a uma vida desafogada ou em direcção à virtude, se deve pesar mais o intelecto ou o carácter. Os problema mais confusos, no entanto, prendem-se com a discussão em torno de até onde se deve ir; deve o estado direccionar os estudos apenas para objectivos práticos de construção moral ou prosseguir para patamares mais altos? Todos estes pontos de vista ganharam a aceitação de vários juízes."
"Política" - Aristóteles
Ou seja: é o estado obrigado a pagar a formação integral ao mais alto nível ou apenas a suportar uma educação de base?
6 Comments:
Penso que é colocada nesta citação uma dúvida muito actual. «...se deve pesar mais o intelecto ou o carácter», ou seja, se o ensino se deve orientar para a transmissão de conhecimentos, ou para o desenvolvimento de valores e capacidades. Esta última vertente tem sido preferida e por isso se verifica a redução de horários das disciplinas «clássicas», como história e geografia, e o aumento do horário escolar disciplinas como «Área-Projecto» e «Desenvolvimento Pessoal e Social».
Caro João Delgado: obrigado pelo link para o "contrasenso". Devo agradecer e dizer que só por falta de tempo não posso, ainda, retribuir.
Um abraço do Algarve (HR).
Caro João Delgado,
Não podia estar mais de acordo consigo. Apenas achei curioso que Aristóteles tivesse colocado uma questão tão actual. Para mim é um erro a introdução dessas disciplinas no currículo das escolas, mas a verdade é que elas foram criadas com os tais objectivos que referi. (Já agora, não tenho a certeza de que os nomes das disciplinas se mantenham, pois eles estão sempre a mudar.)
Queria aproveitar para lhe agradecer o post com o meu comentário. Não sei muito bem se concordo com as suas ideias, pois não consigo ter muitas certezas em relação ao ensino.
Mário Azevedo
Certezas também não tenho. Julgo, no entanto, que a estrutura da educação portuguesa está montada numa forma que faz perder muito tempo aos alunos, inutilmente. Penso agora quanto tempo desperdiçado da minha vida enquanto andei na escola; e espremendo, o que é que lá aprendi? Muito pouco.
Veja-se, neste aspecto, o norte da europa. Na Noruega as aulas processam-se entre as 9 e as 13h. Entre as 14 e as 16 tem lugar o estudo acompanhado, desporto e actividades extra-curriculares. Na prática, trata-se apenas de organização e menos carga horária. Os resultados estão à vista.
Eu compreendo muito bem a sua posição, e até sinto (tem que ser esta a palavra) que tem razão em muitas coisas. O problema é que se têm feito muitas alterações ao sistema de ensino (com as quais em grande parte eu concordava há uns anos) e parece que tudo está cada vez pior.
Mas havia tanto para dizer…
Mário Azevedo
Parece-me que o problema não está tanto na disciplina de Área de Projecto (desenvolvimento social e pessoal não sei bem o que é, e parece que ninguém sabe ao certo!) ; com certeza até será de grande utilidade e interesse para os alunos ; aí até pode fazer sentido trabalhar nessas outras “ disciplinas que, não lhes servindo para a vida prática, lhes abririam portas para outros mundos, outras formas de pensar”.
Não nos podemos esquecer que os nossos alunos são ainda filhos de uma geração praticamente analfabeta! Só há 20 anos é que temos, no papel, escolaridade obrigatória de 9 anos!
Portanto não tenho a certeza se, diminuindo drasticamente a carga horária, os alunos aproveitariam o tempo “a ler, a aprender música, a praticar desporto e a desenhar”. Neste momento, essa Escola de que fala Delgadito e João, seria óptima para uma pequena elite de alunos. Não me parece que o seja para a maioria!
Agora é indiscutível que a Escola tem que MUDAR rapidamente! Mas o problema não é só o currículo! E os professores? Qual a sua formação e cultura? É que a massificação também chegou à Universidade!
Então deve-se começar por onde? Pelo ovo ou pela galinha?
Graça
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