Comentário ao Comentário
Penso que é colocada nesta citação uma dúvida muito actual. «...se deve pesar mais o intelecto ou o carácter», ou seja, se o ensino se deve orientar para a transmissão de conhecimentos, ou para o desenvolvimento de valores e capacidades. Esta última vertente tem sido preferida e por isso se verifica a redução de horários das disciplinas «clássicas», como história e geografia, e o aumento do horário escolar disciplinas como «Área-Projecto» e «Desenvolvimento Pessoal e Social».
Retirei esta excerto de um comentário colocado ao post da Política de Aristóteles. Com pena minha, julgo que se tenta, actualmente, optar pela segunda vertente sem assumir que não se dá primazia à primeira. O resultado é que temos um excesso de horas semanais para os alunos secundários. Como se não bastasse, assiste-se a um aumento desmesurado da carga horária das disciplinas de matemática e de português. Há alunos que têm seis horas semanais destas disciplinas!
Continuaremos, ao que parece, a bater na mesma tecla, sempre à espera de resultados que nunca irão aparecer. O nível está cada vez pior a matemática? Siga então mais uma horita por semana...
Há, no entanto outras opções. Nunca ninguém pensou que, provavelmente, o problema não está no número de horas, mas no número de alunos por turma? Poder-se-ia fazer a experiência e estou certo de que teríamos resultados imediatos. Em vez de seis por semana, seriam duas horas (um terço) mas, para compensar, a turma teria também apenas um terço dos alunos. Em vez de trinta, dez.
Vantagens: maior aproveitamento dos alunos (isso é certo), o estado não gastaria mais dinheiro (já que, apesar de se multiplicar o número de turmas, haveria menos horas para cada uma na proporção exacta) e, finalmente e mais importante, os alunos teriam tempo para usufruirem de uma educação de Carácter efectiva, como a que foi referida por Aristóteles e pelo nosso comentador (que infelizmente não assinou). Teriam tempo para conhecer outras disciplinas que, não lhes servindo para a vida prática, lhes abririam portas para outros mundos, outras formas de pensar.
Platão não tinha dúvidas. Primeiro o espírito.
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