«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Vale a pena votar?

António Mexia é presidente executivo da EDP. Ora, não percebo. Esse senhor não era ministro da economia de um governo que foi esmagadoramente derrotado nas últimas eleições legislativas? Agora é chefe da eléctrica nacional porque os accionistas privados assim o exigem?
Expliquem-me então agora: o povo vota contra António Mexia e o seu governo. Tempos depois ele aparece a controlar um pilar estruturante do Estado, que se baseia em exploração de infraestruturas, recursos humanos e recursos naturais do país. Mas, se quem perde eleições continua a dirigir o país em nome do capital privado internacional, para que votamos? Afinal de contas serve de alguma coisa a democracia, se não é o governo que dirige os recursos fundamentais do país?
O que piora ainda a situação é a notável afirmação do actual ministro da economia: "Não podiamos impedir a nomeação de António Mexia por meros motivos políticos". Aqui está a questão! É que esses motivos políticos, tão pouco decisivos no que toca a quem dirige a energia eléctrica portuguesa, são os únicos onde o povo em geral poderá ter alguma voz. O abandono dos motivos políticos é o abandono da opinião da população em prol de outras que, por mais nobres que sejam, não têm qualquer legitimidade. A referência pejorativa à expressão "motivos políticos" é necessariamente uma referêcia pejorativa às palavras "voto" e "democracia".
Quando Manuel Pinho nos diz que motivos políticos não servem para tomar decisões em cargos de grande responsabilidade estratégica, revela-nos no fundo que o facto de votar PSD, PS, PCP ou BE é irrelevante. As decisões estratégicas foram subrepticiamente desviadas do voto e transportadas para o interesse do capital.
Terão estes factos que ver com a súbita liberalização dos preços da electricidade (que em português bem falado quer dizer aumento)?
Pelo que se vê, o voto PS ou PSD vai desaguar sempre na mesma directriz essencial de orientação. Sobram dois partidos (acho que há ainda um outro, mas não tenho a certeza): PCP e BE. Os únicos dois que não permitiriam semelhante promiscuidade Estado/multinacionais, ex-ministro Pina Moura/ex-ministro Mexia, barragens portuguesa/Iberdrola, etc, etc...
Depois é só escolher. Se se tiver vergonha do que dizem os vizinhos, medo de ser apelidado de comuna, se se quiser ser jovem intelectual, parecer de boas famílias e alimentar a esperança de se chegar a comentador político de tudologia, então vote-se Louçã com inscrição no BE incluida. Se não se é nada disto, mas ainda assim a dignidade das causas se revela em necessidade de acção política, sobra apenas uma candidatura: Jerónimo de Sousa. Se calhar, afinal vale mesmo a pena votar.