«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

sexta-feira, maio 27, 2005

Assunto diferente mas parecido

Sou admirador da clarividência e lucidez de pensamento de António José Saraiva. Mesmo que aqui e ali a minha opinião entre em divergência. Mas está aqui um belo excerto de texto que versa o tratamento erudito e popular (no sentido tradicional) da arte.
"Muitos críticos portugueses se têm deixado impressionar pela separação e impermeabilidade, em Portugal, da literatura culta e da literatura popular; para falar com mais propriedade: do escritor e da massa da população. Os românticos fizeram desta questão um cavalo-de-batalha; e Garrett procurou, no Romanceiro e em outras obras, ressuscitar uma literatura popular, criar uma consciência literária nacional, étnica e folclórica. A língua escrita, nas mãos do mesmo Garrett, pretende aproximar-se do português falado, conservando, aliás, certo sabor quinhentista, dir-se-ia que para manter um carácter histórico, tradicional, superior à contigência do tempo. Nas Folhas Caídas a poesia é moldada em metros simples, frequentemente na tradicional redondilha.
Esta tentativa de Garrett achou continuidade na vasta obra de Teófilo Braga, que é o verdadeiro teorizador e crítico encartado do romantismo tal como Garrett o concebera. Todos sabem como o preconceito etnológico vicia a obra de Teófilo. Nos seus primeiros livros leva esta preconceito a atitudes extravagantes, como a de condenar, em nome de uma tradição literária genuinamente nacional, toda a literatura latinizante e mais ou menos erudita, que a teria feito desaparecer quase sem vestígios."
Para a História da Culrura em Portugal I - António José Saraiva
Noutro sítio, versando assunto diverso, ou nem por isso... :
"Quando, portanto, se afirma que os Gregos possuíram génio universalista, significa com isso que eles chegaram a exprimir a ordem do logos - [...]. O logos é universal."
O ponto onde António José Saraiva acaba por chegar (não posso transcrever aqui páginas e páginas) é que actividade humana artística, para ser arte, terá de ser universal. Seja a literatura ou a música. O localizado, a obra com objectivo de curto prazo, nunca atingirá tais desígnios. Independentemente do contexto político ou estético, o verdadeiro génio surge quando procura o universalismo.