«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

terça-feira, novembro 30, 2004

O Governo

O maior problema num governo não é a eventual má política de gestão. Poderemos concordar ou não com as suas proposições ideológicas ou com a sua carta de propostas eleitorais. O que pior abala os povos é a arbitrariedade. Quando há uma lista de direitos e deveres, por mais restritiva, tirânica ou severa que seja, há certezas. Se fizer isto, acontece aquilo, se não fizer x, acontece y.
Na Grécia antiga, até à tirania de Pisístrato, o regime tirânico não era considerado negativo em si mesmo. A palavra "tirania", aliás, não tinha uma conotação negativa. Mesmo com a severidade desenfreada de Dracon, nunca a tirania foi considerada uma constituição pior que as outras, à partida.
Apenas no regime de Pisístrato a dita palavra obteve o significado negativo à priori que tem hoje. E porquê Pisístrato e não o severíssimo Dracon anos antes? Dracon era um sujeito com um conceito de justiça muito sui generis. Produziu um código de leis pesadíssimo para quem cumpria as mínimas infracções, penas exageradas para delitos comuns, regimes fiscais muitos duros, perpetuando-se no governo unipessoal, não cedendo poder político a órgãos plurais. Quando lhe perguntaram se prever a pena de morte para o ladrão e o mesmo para o homicida não iria equiparar os dois crimes em termos de gravidade, ele terá respondido "A pena de morte é a sançaõ correcta para o roubo. Para o homicídio teria de ser uma mais pesada, caso existisse..." Seguia, no entanto, escrupolosamente a lei que criara. Respeitava as decisões dos tribunais que, sendo independentes, aplicavam as leis de Dracon, como aplicariam outras quaisquer. Todos sabiam com o que contar e o tirano nunca escondeu o que pretendia implementar antes de ser aclamado Arconte. Foi, por assim dizer, uma campanha limpa e honesta.
Pisístrato, por outro lado, não seguiu nunca a lei que criara, fosse ela benéfica ou não, sempre governou e condenou de uma forma arbitrária, mentindo ao povo e aos proprietários. Ludibriou, aliás, tudo e todos para chegar ao poder, numa famosa cena em que se fingiu ferido por consequência de um ataque da facção política rival. Fez uma campanha de angariação de apoios que em nada correspondeu ao que mais tarde veio a pôr em prática no poder.
Temos hoje a liberdade de fazer comparações com o presente...

2 Comments:

Blogger Biranta said...

Tão ignorantes que os nossos políticos são, que repetem erros tipificados há milénios! Ou será a sociedade que é ignorante e não os "avalia" correctamente? Ou será que não há alternativa, porque são todos iguais?
Agora fico com curiosidade de saber o que aconteceu a Pisístrato, para saber se poderá ser inspirador, quanto aos nossos problemas com os políticos que temos!

9:03 da tarde  
Blogger JD said...

Bom. Pisístrato, com muitos truques, ficou no poder até adoecer e morrer...

11:42 da tarde  

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