«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

domingo, novembro 21, 2004

Comentário

Apesar de não estar directamente relacionado com a temática deste site, afixo em baixo um comentário que deixei há umas semanas no barnabé. Limitei-me a fazer copy/paste, pelo que terá as vicissitudes e simplismos de um mero comentário de blog. Trouxe o texto a lume porque o assunto surgiu aqui; não pretendo no entanto prosseguir neste tipo de análise. Os comentários que aparecerem a este post não terão por isso resposta, pelo menos no Palácio dos Balcões. Terei, no entanto, todo o gosto em prosseguir o interessante debate via email com quem entender tecer considerações.
- A diferença entre esquerda e direita -
Estava assistir a um Prós e Contras subordinado ao tema "A diferença entre esquerda e direita" e dei-me conta que nenhum dos convidados desenvolveu qualquer teoria sobre o assunto, limitando-se a focar a posição da direita/esquerda sobre factos concretos, mostrando com eram diferentes e como a sua posição era mais sustentável. Como a jornalista encarregada da moderação do debate em nada ajuda, naquelas suas entediantes demonstrações de conhecimento superficial de todos os dossiers, achei que não passou de outro debate político e de aproveitamento de tempo de antena pelos senhores presentes.
Daí, aqui vai a minha contribuição: O que impulsiona claramente o movimento de esquerda é o conceito de que todo o homem tem um lote mínimo de direitos, independentemete do local onde nasceu, da sua capacidade de trabalho, do seu QI, da sua capacidade de aprendizagem ou da sua capacidade ou vontade de gerar riqueza. Ou seja, não se deve condenar qualquer cidadão à pobreza ou ao salário mínimo, pelo siples facto de ele ter menos QI que outro, e como tal não ter conseguido acabar o 9º ano. (quanto a este assunto vale a pena ler Peter Singer "Ética Prática").
A direita assenta no conceito de que cada cidadão vale por si, trabalha aquilo que pode e tem aquilo que merece. Se conseguir singrar na vida através dos seus meios, muito bem, se não, não terá outra hipótese. Se alguém nascer burro, lixa-se (e, não sendo hipócritas, todos sabemos que uns nascem mais burros que outros). Conceito também ele bastante coerente e com boas hipóteses de passar no filtro do pensamento crítico-filosófico dos neo-utilitaristas.
As consequências destes dois conceitos: Na esquerda, este pensamento levou à criação do estado moderno como o vemos hoje em dia. Só este ponto de vista justifica o pagamento de impostos, de forma a que a redestribuição faça com que mesmo aqueles sem capacidades tenham uma base de vida que lhes dê um mínimo de razoável felicidade. Esse dinheiro será utilizado para que ninguém tenha que pagar hospitais, escolas, pelo menos uma TV e uma rádio públicas, universidades, serviço de concertos, teatros, cinema e livros, estradas, auto-estradas, e todo o tipo de investimentos que beneficie todos os cidadãos de igual forma, bem como todo o investimento que sirva para o desenvolvimento geral do país (por exemplo, capitais de distrito ligadas por auto-estradas). Esses bens são pagos através dos impostos e, por definição, não terão de ser pagos individualmente uma segunda vez. Principal problema da esquerda dita moderna: não aceita que para o estado evoluir como tal, para se aumentar o produto, para que as condições melhorem para todos, é necessário subir os impostos e não descê-los. Pelo menos para ser coerente com os seus pressupostos.
O pensamento de direita deixa sem qualquer justificação o actual Estado cobrador de impostos. Seguindo à letra as leis do livre mercado, ele próprio se regulará. Os incapazes serão uma margem e sub-produto inevitável do sistema. No fundo, Darwin. Assim sim, o utilizador pagador entra em força. Ir ao hospital? Paga. Se não tem capacidade para gerar rendimentos para pagar uma operação, então nem vale a pena ir lá tentar. Quer ir de Coimbra a Viseu? Paga a autoestrada. Se não tem condições para a pagar, então nem vale a pena tentar, porque não há alternativa. Qual o problema da direira actualmente? Não é coerente. Defende este modelo, mas não o assume totalmente perante os eleitores. Ninguém pagaria impostos. Cada um por si. É obvio que este cenário assusta, mas é o único viável e coerente com a teoria política neo-conservadora. Esta é a sua falta de coragem.
Sou de esquerda e, de uma forma ponderada, julgo ser esta a principal diferença. A visão do homem como ser a proteger e a desenvolver seja ele que exemplar for, ou, antagonicamente, a visão do homem como ser de luta, de competição, de selecção natural. A verdade é que já todos os cientistas bio-tecnológicos chegaram à conclusão que a selecção natural darwiniana, pura e simplesmente não se pode aplicar ao homem. Somos nós a primeira espécie que conseguiu fugir dessa fatalidade. A esquerda quer que continuemos a ser.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Na verdade, o que distingue a direita da esquerda não é a dicotomia estado liberal/estado social. Se assim fosse, como classificar os estados fascistas e conservadores dos anos 30? Aliás, bismark foi quem concebeu as traves mestras do estado de previdência.
Quanto a essa visão personalista que afirma que a esquerda têm, tenho alguma reticências. Pelo menos no que se refere àesquerda de cariz marxista essa humanidade não lhe está subjacente. o marxismo não olha para a realidade a partir do ser humano. Simplifica-a à noção de trabalhador-patrão e acho que é esse o motor da história.Na verdade, esta concepção assenta numa visão mecanica do homem.Se hoje se acusa alguma direita de economicismo(e com alguma razão)a verdade é que esse pensamento tem um pai e ele chama-se karl Markx.
Mais do que uma análise factual ou histórica, a distinção entre esquerda/direita deverá assentar em pressupostos, digamos, mais filosóficos, com prejuizo de entrarmos num emaranhado de correntes ideológicas historicamente e geograficamente localizadas e de dificl destrinça.
Mais do que modelos e experiencias históricas a direita distingue-se esquerda por ter uma visão pesimista do homem. Ao contrário a esqerda, partindo do velho princiio roussoueniano, acredita no bom selvagem, na capacidade transformista do homem de se subtrair à sociedade viciosa.E só. O resto não são mais do que preconceitos historica e geograficamente localizados. A ideia de uma direita opressora, por exemplo, vale em Portugal para um geração que viveu sob o jugo do estado Novo. Já se for perguntar aos polacos que força ideológica eles identificam com opressão, a resposta será uma. Socialismo.

3:11 da tarde  
Blogger JD said...

Os argumentos que usa dão que pensar. Prometo dar-lhes tempo e depois elaborar uma resposta mais composta.

Parece-me à primeira vista que está a confundir constituição de governo com sistema político. Sistema político poderá ser o comunismo, liberalismo, socialismo, neo-liberalismo, etc. Constituição de governo poderá ser democracia, tirania, ditadura, oligarquia, etc.

O q

9:32 da tarde  
Blogger JD said...

Continuação...

O que os polacos não gostam não é do sistema político socialismo, mas sim da constituição de governo a que estavam sujeitos (tirania). O que eu não gosto no "novo portugal" não é a forma de governo democrática, mas sim o sistema político neo-con.

É muito importante distinguir estes dois princípios. Aristóteles ensiou-nos a fazê-lo.

Quando, por um lado eu discuto as vantagens e desvantagens do mercado livre, ou marx nos fala das vantagens e desvantagens de uma economia de estado, não se estão a referir a consituições.

Poderá argumentar: sim, mas nunca houve sistemas comunistas cuja forma de governo fosse democrática.

Houve, ou quase houve, pois os EUA boicotaram-nos todos aniquilando os seus líderes. Guatemala, Chile, Honduras, Argentina, Brasil, El Salvador, etc, etc, etc.

Na URSS vivia-se uma ditadura. A culpa é do comunismo, diz-se.

E em Portugal, o que se vivia? E em Espanha? E antes na Alemanha? e até em França? E a culpa foi do mercado de propriedade privada? Ou foi de uma época marcada por constituições tirânicas?

9:38 da tarde  

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