«مَا تَرَكْتُ بَعْدِي فِتْنَةً أَضَرَّ عَلَى الرِّجَالِ مِنَ النِّسَاء»

segunda-feira, maio 30, 2005

Poema sobre insignificância IX

Volto aos poemas árabes sobre insignificâncias. Os sujeitos são objectos insignificantes que, na boa prática árabe, permitem extrapolações para outros assuntos de maior monta.

"A videira

ao passar junto da vide
ela arrebatou-me o manto,
e logo lhe perguntei:
porque me detestas tanto?
eis que ela me respondeu:
porque é que passas, ó rei,
sem me dares a saudação?
não basta beberes-me o sangue
que te aquece o coração?"

Al-Mutamid, Rei de Sevilha, tradução de Adalberto Alves

sábado, maio 28, 2005

Alerta amarelo

Está aqui um belo texto que nos alerta acerca desse disparate que é a valorização pelo trabalho.

sexta-feira, maio 27, 2005

Assunto diferente mas parecido

Sou admirador da clarividência e lucidez de pensamento de António José Saraiva. Mesmo que aqui e ali a minha opinião entre em divergência. Mas está aqui um belo excerto de texto que versa o tratamento erudito e popular (no sentido tradicional) da arte.
"Muitos críticos portugueses se têm deixado impressionar pela separação e impermeabilidade, em Portugal, da literatura culta e da literatura popular; para falar com mais propriedade: do escritor e da massa da população. Os românticos fizeram desta questão um cavalo-de-batalha; e Garrett procurou, no Romanceiro e em outras obras, ressuscitar uma literatura popular, criar uma consciência literária nacional, étnica e folclórica. A língua escrita, nas mãos do mesmo Garrett, pretende aproximar-se do português falado, conservando, aliás, certo sabor quinhentista, dir-se-ia que para manter um carácter histórico, tradicional, superior à contigência do tempo. Nas Folhas Caídas a poesia é moldada em metros simples, frequentemente na tradicional redondilha.
Esta tentativa de Garrett achou continuidade na vasta obra de Teófilo Braga, que é o verdadeiro teorizador e crítico encartado do romantismo tal como Garrett o concebera. Todos sabem como o preconceito etnológico vicia a obra de Teófilo. Nos seus primeiros livros leva esta preconceito a atitudes extravagantes, como a de condenar, em nome de uma tradição literária genuinamente nacional, toda a literatura latinizante e mais ou menos erudita, que a teria feito desaparecer quase sem vestígios."
Para a História da Culrura em Portugal I - António José Saraiva
Noutro sítio, versando assunto diverso, ou nem por isso... :
"Quando, portanto, se afirma que os Gregos possuíram génio universalista, significa com isso que eles chegaram a exprimir a ordem do logos - [...]. O logos é universal."
O ponto onde António José Saraiva acaba por chegar (não posso transcrever aqui páginas e páginas) é que actividade humana artística, para ser arte, terá de ser universal. Seja a literatura ou a música. O localizado, a obra com objectivo de curto prazo, nunca atingirá tais desígnios. Independentemente do contexto político ou estético, o verdadeiro génio surge quando procura o universalismo.

Aí está

O César Viana voltou em força. Já agora gostava de lhe pedir uma achega nesta polémica, em que é sempre tão difícil argumentar, que versa música erudita, clássica ou ligeira e suas legitimidades.

sábado, maio 21, 2005

Não

http://sitiodonao.weblog.com.pt/

Os diversos nãos que por aí andam. Que acertem com a cruzinha no mesmo quadrado.

terça-feira, maio 17, 2005

Radical

Estes são os meus resultados num questionário político no âmbito do espectro partidário francês. Em http://www.politest.fr/

Vous vous situez à la gauche de la gauche.
Les partis dont vous êtes le plus proche (dans l'ordre) :
1. les Verts La tendance des Verts dont vous êtes le plus proche est en général CONTRE la Constitution européenne.
2. la Ligue Communiste Révolutionnaire (LCR) La LCR est totalement CONTRE la Constitution européenne.
3. Lutte ouvrière (LO) Lutte Ouvrière est CONTRE la Constitution européenne.

sábado, maio 14, 2005

Briteiros

Aqui está um bom artigo sobre a dita e suposta Carta Constitucional da União.

sexta-feira, maio 13, 2005

Coitados...

Teve lugar em Paris um grande encontro da cultura europeia. O Governo escolheu um artista plástico a sério para nos representar; escolheu um verdadeiro escritor; escolheu um bom actor e corógrafo, entre outros bons artistas... mas... quem é que escolheu para a música? quem? quem? Terá sido um intérprete de referência como M.J.Pires ou Gerardo Ribeiro? Terá sido um compositor de sucesso como Emanuel Nunes? Terá sido um director de uma qualquer escola superior de música? Não... Escolheu a Katia Guerreiro que, ao que parece, canta o fado. Ou seja, o conceito português de música erudita e cultura musical fica assim pintado. É ela que nos representa musicalmente...
O franceses pensarão: "Que belos arquitectos que há em Portugal! Que notáveis escritores! Agora a música, coitados... , para enviarem música popular não devem ter lá música a sério."

domingo, maio 08, 2005

Volto Já

Concertos, semana difícil. Volto já daqui a uns dias. Talvez sexta-feira.

domingo, maio 01, 2005

Zeus e os Átridas

"Cassandra -
[...]Mas não hei-de morrer sem ser vingada pelos deuses. Alguém virá, que punirá a minha morte, filho destinado a matar a mãe, vingador do pai. Exilado, errante, estrangeiro na sua terra, voltará para pôr a última pedra nas desgraças dos seus. Pois pelos deuses foi feito o grande juramento de que o corpo de seu pai, deitado de costas, o trará de volta.
Mas porque choro e me lamento assim? Depois de ver a cidade de Tróia ter a sorte que teve e aqueles que a tomaram acabarem assim por decisão dos deuses, irei... e suportarei a morte. A estes portões eu me dirijo como aos portões do Hades. E o meu único voto é receber um golpe bem dado, de modo a que eu possa fechar estes olhos sem convulsões, jorrando o sangue de uma doce morte.
Corifeu -
Ó mulher muito desgraçada e também muito sábia, fizeste um longo discurso. Mas, se é verdade que conheces a sorte que te espera, porque é que, como uma novilha conduzida por um deus, avanças assim corajosamente para o altar?
Cassandra -
Quando o tempo está maduro, não há modo de escapar, nenhum modo, estrangeiros!"
Ésquilo - Oresteia, Agamémnon, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério
Este excerto, para além de condensar quase todas as facetas da visão universal grega, constitui também o ponto central de toda a tragédia que, vindo de antes, termina na trilogia da Oresteia.
Da primeira característica vê-se desde logo como Cassandra é profetisa, contactanto com Lóxias (um dos nomes de Febo Apolo). Perante as previsões de tragédia que ela lê no seu exercício profético, sente que nada pode fazer. A luta constante dos gregos contra um destino que, para eles, já está marcado e é completamente inevitável. É o paradoxo de todas as tragédias gregas: o tentar fugir a um destino que todos conhecem e todos sabem inevitável. Sabendo que nada depende deles e tudo das intrigas do olimpo, ainda assim os heróis fazem um esforço tremendo para modelar a sua vida e os seus sucessos.
Antes de Agamémnon ir para Tróia onde iria chefiar as tropas gregas recebeu um chocante notícia através de Ártemis: para a expedição à Ílion ser bem sucedida, Agamémnon, rei dos reis, terá de imolar a sua filha de 15 anos, Ifigénia, sacrificando-a pelo sucesso militar da operação. Nesta estranhíssima exigência reside uma dúvida insanável: Zeus quereria, de facto, que o pai sacrificasse a filha? Ou Zeus simplesmente queria que Agamémnon não fosse capaz de o fazer, tendo assim uma desculpa para dar a vitória aos Troianos da sagrada Ílion? Aliás, será que Zeus, ao desafiar Agamémnon a derramar sangue do seu sangue quis, com a recusa do chefe militar, suspender a guerra de Tróis e evitar que esta acontecesse?
A verdade é que Agaménon sacrifica a filha, vai para as margens do escamandro como Chefe dos chefes, é transformado em herói e volta como uma "homem acabado", segundo as palavras de Clitemnestra. A sua filha seria vingada pelo seu sangue, nas próprias mão de sua mulher.
No momento da Oresteia que reproduzo no ínicio deste texto Cassandra, "a que embaraça os homens", filha de Príamo e de Hécuba e prisioneira, escrava, despojo de guerra de Agamémnon, prevê, com os dons concedidos por Apolo, a vingança tardia de Orestes, filho de Agamémnon que nunca conheceu o pai e que foi colocado no exílio pela mãe quando aquele estava a pelejar na Ásia menor. Nas suas parcas palavras, em cerca de três linhas, Cassandra consegue expor toda a tragédia que trespassa a trilogia.
Ésquilo consegue traduzir todo o espírito universal clássico grego no excerto em cima colocado. Com uma violência atroz, aquelas três secções de diálogo põem a nu todo um povo e toda uma cultura. Os seus medos, as suas crenças, a sua honra, mesmo os seus problemas mais quotidianos. Sem ter a elegância de um Eurípides, Ésquilo é cru e impressionante.